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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Sheree Henry-Whitefeather

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um pai exemplar, n.º 429 - setembro 2018

Título original: Jesse Hawk: Brave Father

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-789-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Epílogo

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Capítulo Um

 

 

 

 

 

Patrícia Boyd observou com ternura o belo rosto adormecido do seu filho, que mais parecia um anjo, iluminado pelo feixe de luz que entrava pela janela do quarto. Com o coração aquecido, concluiu que o amava mais do que a si própria.

Dillon Hawk… Mal podia acreditar que já tinha onze anos! Olhando à sua volta, sorriu ao observar como era organizado. Cada modelo da sua colecção de aviões, carros e barcos estava no seu lugar, assim como os seus patins favoritos.

Sentou-se na beira do leito, acariciou de leve os cabelos espalhados em desalinho pela testa do filho.

– Bom dia, mamã… – Dillon pestanejou, brindando-a com um sorriso preguiçoso. – Já vais para o trabalho?

– Dillon! Hoje é domingo!

– Ah, pois é! – saltou da cama. – Pequeno-almoço na casa do avô.

O pequeno-almoço de domingo era uma tradição para a família Boyd, com diferentes tipos de pão caseiro, ovos com bacon, sumo de laranja fresco…

– Tenho de fazer umas coisas antes de irmos, mas o avô vai preparar os teus ovos.

– Não! Ele não desiste de querer obrigar-me a comê-los moles. «É mais saudável», costuma dizer. Aonde vais hoje, mamã?

«Encontrar-me com o teu pai», pensou ela, nervosa. Depois de doze anos, Jesse resolvera voltar. Comprara a velha Fazenda Garrett, entre Arrow Hill e Hatcher. Jesse não a esperava. Não fizera sequer uma tentativa de contactar a mulher que abandonara há tanto tempo atrás.

– Vou visitar um velho amigo. Deixo-te na casa do teu avô e mais tarde passarei por lá, certo?

– Tudo bem. Mas não te esqueças de que vamos à loja de brinquedos. O avô prometeu comprar modelos novos.

Outra tradição familiar. Raymond Boyd adquiria um para o neto todas as semanas. Mesmo receando que ficasse muito mimado, Patrícia não podia negar que Dillon gostava mais deles do que de qualquer outro brinquedo que recebesse. Dedicava-se com carinho às pequeninas peças, formando carros e aviões idênticos aos verdadeiros.

Além disso, sabia que aquela relação ia muito além de presentes caros. Podia sentir no ar a afeição genuína que neto e avô nutriam um pelo outro.

– Levanta-te, Dillon, e toma um banho para espantar o sono.

– Vou-me despachar.

– Certo, filho, mas não precisas de correr.

Depois de esperar doze anos, alguns minutos a mais não fariam diferença.

Patrícia caminhou em direcção ao seu quarto, empurrando a porta entreaberta. Era um quarto amplo, cuja decoração escolhera com cuidado. Os móveis eram antigos, de madeira escura. Alguns detalhes em azul-turquesa traziam um toque de romantismo, complementado pelos vitrais das janelas. A cada manhã, a luz do sol reflectia através deles, formando lindos desenhos de luz colorida sobre ela.

Tentando acalmar-se, parou diante do espelho. Escolhera uma saia verde-escura lisa, uma blusa clara de tecido suave e sapatos baixos, roupas que pareciam ter sido escolhidas ao acaso para um dia que nada tinha de casual.

Será que Jesse a reconheceria ou teria de olhar duas vezes para ter a certeza? Ainda era esguia, mas os seus quadris tornaram-se mais largos, testemunhando a maternidade. Os cabelos não tinham mudado, apesar do corte mais curto e de algumas madeixas cor de caramelo que iluminavam o seu rosto.

O seu rosto… Tocando-o, lembrou-se de como Jesse o acariciava. Ele costumava falar da maciez da sua pele. Será que notaria as marcas de uma mulher de trinta anos?

O que, em nome de Deus, poderia dizer-lhe? «Eu estava grávida quando partiste»? «Esperei ano após ano que voltasses para mim»? «Devias ter provado ao meu pai que me amavas de verdade!»?

– Mamã?

Patrícia voltou-se rapidamente para o filho, assustada.

– Já estás pronto?

– Sim – Dillon parou perto dela e sorriu, com a mochila às costas. – Há dez minutos.

Fitando o filho, Patrícia pensou que não seria mesmo possível esquecer as feições de Jesse, já que via todos os dias a sua réplica fiel. Aquele sorriso lindo de Dillon, os dentes brancos e perfeitos, o queixo teimoso, a pele bronzeada, os olhos…

Sim, era neles que se podia notar com clareza o presente que o pai lhe dera. Eram de um cinzento brilhante, às vezes azulados, dependendo do humor do rapaz. Como os de Jesse.

– Também estou pronta – mentiu, imaginando se algum dia estaria preparada para voltar a ver Jesse.

 

 

Pouco depois, já podia avistar a velha Fazenda Garrett. Era interessante o facto de Jesse escolher fixar-se ali, entre Hatcher e Arrow Hill, entre o campo e a cidade em plena prosperidade.

Raymond era o homem de maior sucesso do condado, dono de muitas propriedades: casas, prédios de apartamentos e centros comerciais por toda a vizinhança. Um património digno de um rei.

Para manter a atenção distante do estômago, que revirava, Patrícia pôs-se a observar a residência. Embora a estrutura de madeira tivesse sido negligenciada por anos, o esplendor da arquitectura primitiva ainda se apresentava em todo o seu estilo. Notou uma área recém-construída atrás da casa original, não tão rústica, mas também agradável.

Parou um pouco distante da varanda, lutando contra a vontade de fugir. Mais cedo ou mais tarde, o seu caminho e o de Jesse iriam cruzar-se. Não demoraria muito para que as pessoas percebessem que Dillon e o novo morador tinham o mesmo apelido. Além disso, muitos sabiam da verdade.

Ao bater à porta, só obteve como resposta um sonoro coro de latidos. Esperou alguns minutos e virou-se, pronta para voltar para o carro. Se Jesse estivesse ali, com certeza já teria respondido.

– Lamento muito. Não sabia que estava alguém aqui – soou uma voz profunda atrás dela. – Estava a trabalhar no canil, lá no fundo. Consegui deixar a casa cheia de rafeiros. Não consigo resistir…

Patrícia tremia, a respiração difícil. Virou-se para o homem alto, de pele tostada pelo sol, uma das mãos protegendo os olhos da claridade. Ao seu lado, um rottweiler vigoroso.

Jesse usava calças de ganga gastas e botas pretas. Aquele menino magricela de dezoito anos que ela conhecera crescera e dera lugar a um estranho.

– Oh, meu Deus… – balbuciou ele, paralisado. – Patty!

O apelido chegou até ela como um vinho de uma safra especial há muito esquecido, doce e cruel. Ninguém a chamava assim, excepto Jesse.

Empinando o nariz, caminhou em direcção a ele, simulando uma naturalidade que estava longe de sentir.

– É bom ver-te, Jesse – estendeu-lhe a mão, como num encontro de negócios.

– Não te esperava por aqui.

O cumprimento era desconfortável para ambos. Por isso, Patrícia interrompeu-o logo, fingindo arranjar a alça da mala.

– Por que não?

– Apenas não esperava.

– Podias convidar-me para entrar…

«Afinal, sou a mãe do teu filho, a rapariga tola e inocente que esperou por ti todos estes anos.»

Jesse ainda tinha os cabelos negros e brilhantes compridos, soltos sobre os ombros. Mas agora as patilhas bem cortadas davam-lhe um ar de maturidade.

– O que estás a fazer na fazenda, Patrícia?

– Pensei que seria perigoso se nos cruzássemos na cidade – endireitou-se. – Esperava que pudéssemos conversar.

– Vamos ficar na varanda. Deixei alguns cães dentro de casa enquanto o canil não está pronto e podem incomodar-te – ao virar-se, o cão seguiu-o. – Queres uma soda gelada?

– Não, obrigada. Estou bem – Patrícia seguiu-o pelas escadas e sentou-se numa cadeira de dois lugares.

O rottweiler acomodou-se aos pés de Jesse, satisfeito pela proximidade com o seu dono.

– Como se chama ele?

– Cochise.

– Parece adequado. Parece o nome de um guerreiro.

– De certo modo, ele é guerreiro, mesmo. É treinado para saber a diferença entre amigos e inimigos.

Jesse era um criador de cães responsável. Não teria um cão como aquele, se não tivesse sido treinado por um profissional.

Patrícia lembrou-se de como ele costumava trazer animais abandonados para o seu apartamento e alimentá-los, mesmo que tivesse dificuldades até para se manter a si próprio.

Jesse deu um pequeno toque no vidro da janela e um focinho curioso colou-se a ele.

– Eu trouxe-os da Sociedade Protectora esta semana. Estava a construir o canil quando chegaste – virou-se para Patrícia.

Ela olhou para a cadeira e forçou a sua respiração a ficar mais lenta. Vira o mesmo sorriso bonito no rosto de Dillon, naquela manhã. Mas, assim que os seus olhares se cruzaram, Jesse ficou sério.

O seu olhar era cauteloso, apesar de ainda lhe tirar o fôlego. Muitas pessoas diriam que as íris eram cinzentas, mas Patrícia sabia que se tornavam prateadas quando fazia amor, com um brilho sensual que a enlouquecia.

Patrícia arranjou a saia, embaraçada.

– Ouvi dizer que este lugar tinha sido vendido, há meses atrás.

Porém, não soubera, até então, que Jesse tinha sido o comprador. A propriedade fora adquirida em nome de uma companhia.

– Fiquei indo e vindo daqui para Tulsa por um bom tempo. Passava os fins-de-semana aqui, tentando acabar o restauro da casa. Contratei uma equipa para construir a clínica, mas estou a fazer grande parte do serviço sozinho.

De imediato, Patrícia recordou o interesse de Dillon por arquitectura.

– Não sabia que tinhas experiência em construção.

– Trabalhei um pouco nessa área, na época da faculdade – encolheu os ombros. – Precisava de pagar a renda, afinal.

Patrícia quis perguntar sobre os seus estudos. Sabia que Jesse sofria de dislexia e tinha dificuldades com a leitura, assim como Dillon… Mas indagar sobre a sua faculdade, na certa, traria o passado de volta e a parte que o seu pai tivera nele.

– Então, presumo que o que estás a construir lá atrás será uma clínica veterinária.

– Isso mesmo. Divido uma clínica com três outros veterinários em Tulsa. Achámos que já era altura de abrir outra, no campo.

Isso explicava a companhia em nome da qual a fazenda fora adquirida. Ao que tudo indicava, Jesse e os seus colegas tinham formado uma pequena sociedade, de forma a ter uma dedução nos impostos.

– Parece que as coisas correram bem para ti, Jesse.

– É verdade.

Ficaram em silêncio por instantes, observando a estrada poeirenta. Uma borboleta aproximou-se e Patrícia alegrou-se por dentro. Quando era pequeno, Dillon costumava caçá-las no jardim florido do avô. Só para as admirar de perto, pois soltava-as em seguida. Dizia que o que tinha asas devia voar e não ficar preso onde quer que fosse.

Jesse afastou a cadeira.

– Tens a certeza de que não queres uma soda?

– Tenho, Jesse, mas se estiveres com sede, serve-te.

– Não, estou bem.

«Vamos, pensa em algo para dizer!», ordenou a si mesma, enquanto enfrentavam outro momento de silêncio. Prendeu algumas madeixas atrás das orelhas, enquanto Jesse cruzava as pernas de um modo muito masculino. Depois descruzou-as, estendendo-as. Eram longas e musculosas.

Jesse mudara. Encorpara, adquirindo uma aparência ainda mais sólida. E colada ao seu peito ainda se via uma bolsa de couro, que usava desde antes de se mudar dali. Patrícia sabia que guardava nela coisas que lhe eram caras. Houve uma época em que uma delas era uma madeixa dos seus cabelos.

– Então, voltaste para ficar?

– Sim, mas estive na Califórnia há pouco. O meu irmão mora lá. E a mulher dele teve um bebé.

– O teu irmão? Quer dizer que o encontraste?

Patrícia sabia que Jesse e o seu irmão mais velho tinham sido separados após a morte dos seus pais, quando eram pequenos. Foram criados em casas diferentes. Como na época Jesse tinha apenas dois anos, soube da existência de Sky apenas anos depois. Com dezoito anos, começou a procurá-lo, mas descobrira que Sky já se tinha mudado.

– Sky voltou para Marlow para me procurar. E assim reencontrámo-nos – um sorriso afectuoso surgiu nos lábios dele. – Ele é de mais! Tudo o que se pode querer num irmão. E tem uma família adorável! Uma esposa maravilhosa e uma doce filhinha.

A tristeza e a inveja arrepiaram a pele de Patrícia. «Se tivesses voltado para mim, também poderias ter tido uma família adorável.»

– Parece que se entenderam bem.

– Sim. O meu irmão e eu conversámos sobre tudo. As nossas heranças, a nossa infância, o nosso trabalho. Sky está a começar a aprender o dialecto muskokee. E tu, Patty? Como está a tua vida?

– Estou feliz. Sou mediadora imobiliária.

Jesse estreitou os olhos.

– Compras e vendes propriedades do teu pai, certo?

– Sim. Compro e vendo propriedades, para os negócios do meu pai.

– O papá e a sua preciosa menina… – zombou, penteando-se com os dedos. – Ou casaste-te com um homem adequado para Raymond?

Patrícia ergueu a mão esquerda para mostrar que não usava aliança.

– Sou solteira. Mas amadureci, Jesse. Ao contrário de ti… Esse ressentimento tolo não te fica bem.

– Então processa-me. Melhor ainda: tenta guiar os meus passos de novo.

Patrícia não estava disposta a falar daquilo, não naquele momento. Raymond esteve errado por todos aqueles anos, mas fizera aquilo visando o seu bem. Amara Dillon desde que nasceu. E agora, sendo mãe, Patrícia conseguia entender a natureza superprotectora do pai.

– Não vim aqui para reviver o passado.

– Estás certa. Lamento muito. E fico contente que estejas feliz, Patty.

A delicadeza dele fê-la lembrar-se do homem que Jesse costumava ser, aquele que amara tão desesperadamente.

Tentou olhar para a janela para desviar os devaneios. Não pôde deixar de sorrir ao ver dois cães a olhá-los.

– Podes deixá-los sair, eu não me importo.

– Está bem, mas não digas que não avisei.

Os cães saíram a correr pela porta. Cochise sentou-se, orelhas em pé, observando a actividade.

Patrícia foi tudo, menos atacada. Eles cheiraram-na, afoitos. Ela tentava dar atenção a cada, acariciando-os. Jesse riu-se quando um pequenino, marrom e branco, se enfiou por debaixo da saia dela, e puxou-o, enquanto os outros desciam as escadas da varanda, sob a vigilância de Cochise.

Jesse virou-se para o seu leal companheiro:

– Podes ir, rapaz.

O rottweiler obedeceu de pronto, descendo os degraus.

– Este aqui é muito bonito – Patrícia acariciava as orelhas de um cão. – Parece um daqueles que aparecem em filmes. É peludo e pequeno.

– Costumavas adorar esse tipo de filmes. Faziam-te sempre chorar.

Patrícia concordou com um gesto de cabeça, esperando parecer menos abalada do que se sentia.

– Eu lembro-me. Os finais felizes e cheios de emoção… Meu Deus, quantos vimos?

Muitos, pensou Jesse, o peito apertado. Ficar em frente à televisão abraçado a Patrícia era uma imagem que ainda o perseguia. Quantas vezes, em todos aqueles anos, pensara nela?

Patrícia mudara, ficando ainda mais bonita do que nas suas memórias. Os cabelos castanhos com luzes douradas estavam cortados com mais estilo e o corpo adquirira curvas acentuadas. As pernas, longas e bem-feitas, pareciam ter força e agilidade suficientes para abraçar um homem por horas… Como eles já tinham feito, recordou com um gemido mudo. Aquelas eram as imagens mais dolorosas. A paixão adolescente, a sensualidade da timidez, o carinho do amor inexperiente.

Recém-saído da escola, Jesse mudou-se para o condado de Marlow em busca das suas raízes, mas em vez delas achara Patrícia. Preocupado com a faculdade, fora a uma biblioteca pública inscrever-se num programa gratuito de literatura. Ao sair, viu a rapariga de cabelos castanhos escorridos, de calções e sandálias. Foi amor à primeira vista. Mas três meses depois, o seu mundo desabou.

Jesse fixou o olhar no tecto da varanda, recordando a ocasião em que Patrícia o traíra. Então, como que foi transportado para aqueles tempos, os mais felizes e mais dolorosos da sua existência.

 

 

Jesse acabava de voltar para casa, depois de um encontro tenso com Raymond Boyd, quando Patrícia chegou, pálida e cansada.

– Eu não devia ter falado ao meu pai a respeito da tua bolsa de estudos.

me que lhe prove alguma coisa!

– O papá está errado, mas nunca poderei odiá-lo, pois criou-me sozinho e eu… – desviou o olhar e pôs a mão sobre o ventre. – Por favor, tenta entender.

Jesse entendia. Patrícia não o amava tanto como ele. Não havia um futuro para os dois. Em breve, iria tornar-se, para ela, o rapaz que lhe ensinara como agradar aos homens. Que seriam ricos, para que o papá aprovasse. Bem, Jesse decidiu aproveitar a sua bolsa, seguir adiante e deixar Patrícia para a riqueza do pai.

– Vais voltar, não é, Jesse?

– É claro que sim.

E resolveu, naquele momento, que voltaria ao condado de Marlow algum dia, mas não para a menina que optara pelo dinheiro do pai. Jesse Hawk voltaria para encontrar as suas raízes, para fazer a sua casa onde os seus ancestrais tinham vivido e morrido.

 

 

E foi o que fez. Mas, doze anos depois, Patrícia estava ali, a remexer em todas aquelas memórias dolorosas.

Jesse suspirou. Devia ser um bom anfitrião e convidá-la para entrar, mas não ousaria. Não suportaria vê-la sair, deixando a casa vazia… Já vivera suficientemente em solidão por causa de Patrícia e de Raymond.

– Sei que não vieste falar do passado, mas há algo que eu preciso de dizer – Jesse procurou escolher bem como se expressar, odiando o facto de a achar tão bonita. – Não estava realmente apaixonado naquele tempo, nem tu. Ou melhor, éramos apenas adolescentes a experimentar novidades…

Patrícia empalideceu, causando-lhe remorsos pela sua necessidade de vingança. Porém, jamais admitiria o quanto sofrera por ela, a falta que sentira que o fizera chorar tantas vezes.

– Não deveria ter-te pedido que ficasses comigo. O que tivemos foi uma paixão de adolescentes. Nunca teria dado certo.

– Estou bem consciente disso, Jesse.

– É o que penso. Não te culpo por não teres partido comigo.

E não a culpava, mesmo. Não agora, que compreendia melhor as coisas.

– Tenho de ir – Patrícia despediu-se com carinho do cão, levantou-se e alisou a saia.

Jesse permaneceu sentado por mais um momento, olhando-a. Se a magoara, Patrícia fazia o máximo para não demonstrar. A não ser pela falta de cor nas suas faces, parecia fria e profissional.

– Eu acompanho-te até ao carro.

– Não é necessário.

– Insisto.

Os gravetos quebravam-se sob os seus pés. Os passos dela eram suaves, os dele, pesados, assim como a tristeza no seu peito. Os cães rodeavam-nos enquanto andavam.

Quando Patrícia abriu a mala de couro à procura das chaves, Jesse aspirou o seu perfume. O aroma não era familiar, mas deixou-o entorpecido. Incapaz de se controlar, tocou de leve o rosto dela.

– Não me toques…

Jesse silenciou o seu protesto com os lábios, apertando-os com brutalidade contra os dela, num beijo cheio de desejo, carregado com anos de sofrimento.

Patrícia respondeu à língua exigente, derretendo-se como mel, ao enlaçá-lo pelo pescoço.

Satisfeito por tê-la tornado tão vulnerável quanto ele, Jesse afastou-se de repente.

– Não voltes, Patrícia. Não quero ver-te de novo – virou-lhe as costas e caminhou com firmeza, resistindo à vontade de a fitar ao ouvir o ronco suave do carro a afastar-se.