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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Anna Depalo

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um romance indecoroso, n.º 2135 - novembro 2016

Título original: An Improper Affair

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9213-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Encontrar um pouco de calma numa povoação perdida como Hunter’s Landing não era a ideia que Ryan tinha de diversão, mas a verdade era que nada do que fazia ultimamente era divertido.

Estava tão perto da vitória que praticamente podia saboreá-la e, como a vingança era um prato que se servia frio, tinha intenção de levar todo o tempo do mundo a saboreá-la.

Entretanto, não ia perder de vista a presa. Webb Sperling, director-geral e presidente do conselho de administração dos grandes armazéns Sperling, além do homem a que Ryan se via obrigado a chamar pai, nem saberia o que lhe tinha sucedido.

Continuou a caminhar por uma das principais ruas comerciais dos arredores do lago Tahoe procurando um lugar no qual poder comprar um presente de casamento. Já que ia estar preso naquela terriola durante todo o mês de Junho, o melhor seria descobrir algum lugar no qual se divertir. Embora suspeitasse que ia encontrar pouca diversão por ali. Tinha a impressão que os habitantes daquele lugar tão calmo dependiam da bondade do cabo para poder aceder à televisão, à Internet e ao mundo em geral.

Ryan sentia um enorme interesse pelo cabo. O cabo enriquecera-o já que a sua empresa, Ray Technology, estava entre as mais importantes do lendário Silicon Valley californiano.

O cartaz de uma loja atraiu a sua atenção de repente. Triste Sucesso, anunciava com letras floreadas.

Ryan esboçou um sorriso.

Aquele cartaz resumia a sua vida em duas palavras.

Ao chegar junto da loja, pôde ver que era um pequeno estabelecimento em que se vendiam coisas para a casa. A fachada estava pintada de branco, azul claro e um debrum amarelo como um ovo de Páscoa. Ambas as montras ofereciam cenas deliciosamente caseiras.

Na da esquerda havia uma mesa preparada para quatro com um serviço de chá de chávenas e pires diferentes e uma mesa algo gasta, embora coberta com uma vistosa toalha.

À direita, via-se um velho sofá que parecia ter sido resgatado de uma quermesse, adornado com um vasto leque de almofadas de seda, com borlas e contas.

Era uma cena caseira com um toque pecaminoso, pensou Ryan com um nó na garganta; aquele sofá encaixaria na perfeição num quarto de exotismo oriental… ou nos aposentos de uma madame de bordel. Ali, na fronteira que separava a Califórnia do Nevada, onde os bordéis eram legais em muitas localidades, a cena não destoava absolutamente nada.

Intrigado pelo aspecto exterior da loja, decidiu dar uma olhada lá dentro.

Uma campainha colocada sobre a porta anunciou a sua chegada.

– Estes álbuns de fotos forrados a seda chegaram na semana passada…

A voz da mulher, ligeiramente grave, chegou aos seus ouvidos ao mesmo tempo que sentia o suave aroma a flores. Rodeou uma mesa e encontrou-se lado a lado com a proprietária de dita voz.

Ela elevou o rosto com um sorriso e Ryan sentiu que lhe faltava o ar, como se acabassem de lhe desferir um murro no estômago.

– Olá.

– Boa tarde…

A voz daquela mulher em seguida perdeu força ao encontrar-se com o olhar dele. Ryan ficou tenso; era a reacção normal num homem que estava há muito tempo sem par.

Olhou-lhe para a mão, viu que não usava nenhuma aliança e sentiu uma alegria repentina.

A ideia de ter de estar um mês naquela povoação já não lhe parecia tão horrível.

Alta e curvilínea, o cabelo caía-lhe sobre os ombros, um cabelo de cor ouro acobreado.

Era uma Vénus moderna da qual o próprio Botticelli se teria sentido orgulhoso se tivesse podido utilizá-la como modelo para a sua deusa do amor. Tinha a pele clara e rasgos simétricos.

Vestia uma camisola castanha, uma saia rodada e sandálias de salto que lhe davam um aspecto profissional mas com um certo ar boémio que encaixava na perfeição com a imagem da sua loja.

Estava a atender uma mulher de meia-idade à qual estava a mostrar uma ampla variedade de álbuns.

Pigarreou e rasgou o sorriso.

– O senhor vá dando uma olhadela e diga-me se necessitar de alguma coisa – disse-lhe.

Titubeou uns segundos, como se acabasse de perceber a interpretação que podia dar às suas palavras. Ryan teve de fazer um esforço para não sorrir.

– Eu atendê-lo-ei em seguida – acrescentou então.

Então sim, não pôde evitar sorrir ao pensar quanto ele gostaria que o atendesse de verdade.

– Tenha calma, não tenho pressa.

Ela olhou-o com incerteza uns segundos antes de voltar a olhar para a cliente que tinha à frente.

Ryan passeou pela loja, não sem antes aproveitar a oportunidade para a observar mais um pouco.

Ao longo da sua vida tinha chegado à conclusão que as mulheres o achavam atraente, mas a verdade era que os seus encantos estavam algo oxidados por falta de uso. A sua última relação, se é que uma aventura de três meses podia chamar-se assim, tinha terminado há quase um ano.

Ouviu a voz da atraente mulher vinda do fundo da loja.

– Também temos alguns encadernados em couro que talvez lhe agradem…

Ryan reparou num candeeiro cujo quebra-luz estava decorado com flores e outro com contas de vidro de cores diferentes.

Tinha a sensação de ter entrado num reino de fantasia cheio de cor e texturas. E no entanto, a loja não podia nem comparar-se com ela. Aquela mulher tinha despertado nele um interesse que nunca sentira por nenhuma mulher. A sua voz era como a carícia de uma pétala de flor.

Definitivamente, passara demasiado tempo sem sexo, pensou Ryan. Demasiado tempo a pensar só no trabalho.

E agora, graças a Hunter, um velho amigo da faculdade que tinha morrido muito jovem, dispunha de muito tempo para pensar nisso.

Estando em Harvard, Hunter, outros cinco amigos e ele tinham formado uma espécie de pequena fraternidade.

Uma noite, diante de uma mesa infestada de garrafas de cerveja vazias, tinham prometido que cada um deles deixaria a sua pegada no mundo, mesmo que todos proviessem de famílias distintas e abastadas. Também tinham prometido que se reuniriam dez anos depois para celebrarem a amizade que os unia e o sucesso de todos.

Mas pouco depois da formatura, a repentina morte de Hunter como consequência de um melanoma tinha desmembrado o grupo e pouco a pouco tinham perdido o contacto.

Até que há uns meses, Ryan e o resto de integrantes dos «sete samurais» que restavam tinham recebido umas cartas do escritório de advogados que representava a Fundação Hunter Palmer.

Segundo lhes tinham informado, pouco antes da sua morte, Hunter tinha mandado construir uma casa nas imediações do lago Tahoe e agora, já do além, esperava que os amigos cumprissem a promessa que tinham feito há dez anos atrás.

De acordo com o testamento, se cada um deles passasse um mês naquela casa, seis meses depois, uma organização benéfica receberia vinte milhões de dólares e a casa passaria para as mãos da povoação de Hunter’s Landing para abrigar um centro de apoio a doentes de cancro.

Vinte milhões de dólares era muito dinheiro, por isso nem sequer Ryan, por muito rico e frio que fosse, podia dizer que não.

Portanto, este era o motivo pelo qual se encontrava na situação em que se encontrava; preso em Hunter’s Landing precisamente no momento em que estava a ponto de alcançar o objectivo pelo qual trabalhava há anos: conseguir que Webb Sperling pagasse pelo que tinha feito.

Ryan torceu o nariz ao pensar nisso. Claro que só Hunter poderia ter encontrado um lugar chamado Hunter’s Landing para reunir os velhos colegas de universidade. Hunter sempre tivera um sentido de humor muito particular.

Três dos seus colegas já tinham passado pela casa, pensou Ryan, por isso já estavam a meio do caminho. O mais curioso era que os três tinham terminado o mês comprometidos ou casados, incluído Devlin, cuja estadia na casa acabava de chegar ao seu termo.

De facto, Ryan tinha chegado antes a Tahoe para assistir ao casamento porque Dev lhe tinha pedido que fosse o padrinho.

Devlin tinha chegado a referir-se à casa como «a guarida do amor».

Ryan voltou a olhar para Vénus. A verdade era que ele se conformaria com um breve encontro; o que suporia um grande avanço comparado com o que tinha sido a sua vida amorosa ultimamente.

– Espero que o desfrute.

A voz de Vénus penetrou nos seus pensamentos.

Ryan voltou-se para olhar e viu-a a acompanhar a sua cliente até à porta. Depois do tilintar das campainhas que anunciaram a partida da outra mulher, fez-se um intenso silêncio. Estavam a sós.

Ryan observou-a enquanto ela colocava os álbuns no devido lugar. Finalmente, depois do que para ele foi uma eternidade, Vénus olhou-o e sorriu.

– Posso ajudá-lo? – perguntou-lhe ao mesmo tempo que se dirigia para ele.

– Procuro um presente de casamento – anunciou Ryan. – Passava por aqui e o nome da loja despertou a minha curiosidade.

– Sucede a muita gente – admitiu ela. – O nome é um bom anúncio para a loja.

– A senhora é muito hábil com o marketing.

Estando tão perto dela viu que tinha os olhos cor de avelã e umas sobrancelhas perfeitamente delineadas. Os lábios eram carnudos e rosados, a pele cremosa, sem uma só mancha. Era difícil não ficar boquiaberto perante tanta perfeição.

– Obrigada – respondeu depois de uma breve pausa. – Pretendemos ter um estilo elegante e desalinhado.

– Elegante e desalinhado? – Aquilo era uma provocação. – Isso é uma completa contradição.

– Sim – reconheceu, – mas também é uma tendência muito actual que promove, por exemplo, móveis com um acabamento algo gasto.

– E eu que pensava que o nome da sua loja era uma descrição da minha vida.

Ela soltou uma gargalhada.

Ryan gostou do riso dela. Tinha um toque musical que o levou a perguntar-se se adquiriria um tom mais grave e profundo na cama.

Levantou um relógio que havia numa estante e, ao ver o preço, arqueou ambas as sobrancelhas.

– Ora, ora, as pessoas estão dispostas a despender muito dinheiro para parecerem pobres.

Ela assentiu.

– Incluindo os famosos – acrescentou rindo-se. – Não se esqueça que estamos em Tahoe.

– Então há mercado para serviços de chá em que nenhuma chávena é igual?

– Sim – confirmou sem se deixar ofender. – Unir peças completamente díspares para criar um conjunto cheio de harmonia é uma grande arte. Eu trato de encontrar o que os meus clientes procuram mesmo que nenhum dos meus fornecedores habituais o tenha.

Ryan tinha a certeza que mais de um cliente se teria deixado seduzir pelos hábeis argumentos comerciais de Vénus.

– Pode sugerir-me algum presente de casamento para um casal que tem tudo?

A pergunta arrancou um sorriso dos seus lábios.

– Jovens ou idosos?

– Jovens – disse Ryan. – Ele é milionário e ela está a ponto de sê-lo também.

– Uma rapariga com sorte – disse ela e depois olhou em redor com um gesto pensativo.

Ele também olhou. Tudo o que havia naquela loja parecia desenhado para satisfazer o gosto feminino.

Estava perdido.

Então viu que ela tinha centrado o olhar em algo, deu uns passos para diante e ele seguiu-a.

– Que lhe parecem uns candelabros de cristal? – Sugeriu-lhe.

Os dois candelabros mediam uns trinta centímetros e eram de cristal lavrado.

Ryan sabia que mais adiante enviaria aos noivos um presente mais caro, mas gostava da ideia de lhes levar alguma coisa no próprio dia do casamento, para assinalar a importância do acontecimento.

Vénus observou-o minuciosamente.

– O cristal é sempre um presente seguro, é sempre adequado, é sempre…

– Vendido – disse ele. – Eu levo-os.

Parecia surpreendida, e também satisfeita.

Ryan agarrou um dos candelabros e viu o preço; era considerável, mas podia dar-se a esse luxo, sobretudo se a compra lhe fizesse ganhar pontos com a formosa Vénus.

Deu-lhe o candelabro e, ao fazê-lo, as suas mãos roçaram-se. Ryan sentiu uma espécie de descarga eléctrica e, se não estava enganado, a julgar pela repentina tensão que viu no seu rosto, ela também a sentiu.

No entanto, tudo havia terminado em poucos segundos e ela deu meia volta para se dirigir à prateleira. Ele seguiu-a.

– Há algo mais que queira ver? – perguntou-lhe sem voltar a olhá-lo.

«Sim, a ti», pensou Ryan enquanto a via caminhar. «Espectacular». Perguntou-se que se sentiria ao estreitá-la nos braços.

Teve de fazer um esforço para se esquecer de tais pensamentos e responder à pergunta que lhe tinha feito.

– Por enquanto é tudo.

Se dele dependesse, já teriam ocasião de se voltarem a ver ao longo do mês.

Não podia desviar os olhos dela enquanto tirava o preço aos candelabros e os embrulhava com extrema delicadeza. Parecia-lhe excitante ver o movimento das suas mãos. Tinha de se controlar ou, melhor ainda, desabafar sexualmente para se relaxar um pouco.

– Vai ficar em Tahoe ou está aqui só de passagem? – Perguntou ela, tirando-o das suas fantasias.

– Vou ficar umas semanas em Hunter’s Landing – respondeu ele.

Se medisse a sua estadia ali em semanas, afigurava-se-lhe algo mais sofrível.

– A sério? – Vénus levantou a vista. – Eu vivo muito perto.

– Hunter’s Landing é pequeno e muito sossegado – afirmou Ryan com um trejeito.

Certamente ela pensaria que estava ali de férias. Ia vestido com umas calças de fato de treino e um pólo para variar um pouco, já que a sua indumentária habitual era fato e gravata.

– Eu gosto dos lugares pequenos e calmos – respondeu ela.

Sem dúvida não parecia muito pândega, pensou Ryan. Talvez tivesse namorado e por isso não sentisse a necessidade de socializar nos bares da localidade.

Não usava aliança, mas podia ter namorado ou, mais provavelmente, namorados, corrigiu-se, certo de que Vénus teria centenas de homens a seus pés.

– Mal conheço a terra, portanto talvez possa recomendar-me um bom lugar para comer.

Estava a faltar ligeiramente à verdade, já que tinha crescido muito perto dali, na propriedade que a sua família tinha em Clayburn e tinha estado em Tahoe em infinidade de ocasiões. Embora não recentemente. Nos últimos tempos tinha-se dedicado de corpo e alma a preparar a vingança e Tahoe era um lugar que Webb Sperling e os do seu género frequentavam.

O que Vénus também não tinha por que saber era que lhe tinham entregado a casa com o frigorífico repleto de todo o tipo de mantimentos.

Ela ficou pensativa durante uns segundos, como se estivesse a perguntar-se se Ryan estava a tentar alguma coisa.

Ele viu-se invadido pelo desejo.

Vestia uma camisola muito simples, mas com aqueles peitos generosos, qualquer trapo a tornaria sexy.