sab1076.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1994 Miranda Lee

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Tragédia e paixão, n.º 1076 - junho 2017

Título original: Passion and the Past

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9834-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Royce viu a enorme opala da montra e decidiu que a queria. Sempre fora assim. Um homem seguro do que queria e obsessivo na altura de o conseguir. Com dez anos, quisera ser campeão de go-karts no sudeste da Inglaterra. Com catorze, já era. Aos dezanove, cobiçara o título de campeão mundial de Fórmula Um.

Mas demorara treze anos a consegui-lo. Treze anos longos, difíceis e perigosos. Tentara ano após ano até conseguir e, depois, para surpresa de todos, anunciara a sua reforma. Porque havia de continuar? Já conseguira o seu objectivo. Era hora de seguir em frente e encontrar uma nova meta.

Isso acontecera há dezoito meses. Durante esse tempo, estivera a viajar pelo mundo, visitando todos aqueles lugares que realmente nunca vira enquanto estava sentado ao volante do seu carro de corridas. Também começara a coleccionar antiguidades e arte. Já enviara imensos tesouros para casa, para encher as sessenta divisões da mansão do século XVIII que comprara há dois anos em Yorkshire e para onde voltaria muito em breve.

Dado que já não arriscava a sua vida todas as semanas, os seus amigos pensavam que talvez considerasse a ideia de se casar e de constituir uma família. Mas o casamento nunca estivera, nem estaria, na sua lista de objectivos.

Voltou a olhar para a opala enquanto a sua mente se perdia noutro lugar. Começou a perguntar-se como seriam as mulheres australianas. Ainda não tivera tempo de conhecer nenhuma.

Aterrara em Sidney na tarde anterior e fora directamente do aeroporto de Mascot para o Regency Hotel, onde dormira até tarde naquela mesma manhã. Tomara um pequeno-almoço forte e dera um passeio pelas lojas que havia na recepção do hotel a caminho do seu quarto. A opala da montra de uma delas chamara a sua atenção.

Reparou no cartaz que havia em cima da guarda-jóias de cristal que continha a pedra enorme:

 

Coração de Fogo. Uma opala pouco comum e de grande valor, de 1269 quilates, que será leiloada como peça de colecção no Baile Anual da Whitmore Opals, que terá lugar no Regency Hotel na noite de sexta-feira, dia 21 de Julho. Os bilhetes para o baile podem adquirir-se no hotel ou na loja da Whitmore Opals no The Rocks. A rainha do baile usará esta magnífica opala maciça, cujo valor é de vinte mil dólares.

 

Um leilão, pensou Royce. No dia vinte e um de Julho. Ainda faltava um mês e ele já se teria ido embora para Melbourne. No entanto, sabia por experiência que o facto de a jóia ser leiloada não impedia que ele fizesse uma oferta antes do leilão. Faria uma oferta que o presidente da Whitmore Opals não conseguiria rejeitar.

Estava a perguntar-se a quem pertenceria a empresa e quanto lhe custaria conseguir o que queria quando reparou numa mulher que estava à frente de um dos balcões da loja. Tinha o cabelo e os olhos pretos, a pele parecia de porcelana e um rosto digno de uma pintura italiana do Renascimento. Estava a falar com uma das empregadas, mostrando-lhe algo que trazia num saco de plástico.

Royce adorou aquele rosto tão belo, mas sério. Os seus olhos, em especial, reflectiam um enorme abatimento interior. Algo longínquo. Estava a pensar que nunca vira semelhante combinação de beleza e de tristeza quando a viu sorrir, era um sorriso tão vibrante e surpreendentemente sensual, que não conseguiu conter a resposta do seu corpo. A opala passou para um segundo lugar e teve um desejo mais imediato e primitivo.

A adrenalina correu pelas suas veias. Observou-a através da montra enquanto pensava num modo de a conhecer. Estudou a sua beleza física. Nunca vira um rosto tão perfeito, um pescoço tão elegante nem uma boca tão exuberante. Não gostou que a roupa que vestia escondesse o seu corpo por completo. Porque é que uma mulher tão bonita estava vestida com uma roupa tão horrorosa? Aquele casaco verde era horrível. E o vestido preto que vestia por baixo era quase tão feio como os sapatos pretos.

Royce só gostava do preto na roupa interior das mulheres. Se aquela mulher fosse dele, vestir-se-ia com um vermelho intenso, um verde-esmeralda ou um azul eléctrico. E calçaria os saltos mais altos e sensuais que encontrasse.

Bolas, estava a ir-se embora!

Royce, que não era lento, entrou em acção e conseguiu chocar contra ela quando saiu da loja.

– Lamento – desculpou-se, agarrando-a pelo cotovelo para a segurar. – Está bem?

– Perfeitamente, obrigada – respondeu ela.

De perto era ainda mais deliciosa e Royce sentiu que a desejava ainda mais.

– Devia ver por onde ando – comentou ele, aliviado ao ver que não tinha aliança. Evitava sempre as mulheres casadas. – Podia convidá-la para um café, como desculpa?

Aqueles olhos pretos pestanejaram e olharam para ele na cara, havia medo neles.

Royce surpreendeu-se, o que é que aquela mulher teria visto na sua cara para reagir assim? Parecera-lhe que se comportara de um modo encantador; que as suas verdadeiras intenções estavam escondidas por trás de uma fachada de galã.

– Não, obrigada. Tenho… tenho de ir – e antes de ter tempo de pestanejar, ela já atravessara o hall e desaparecera pelas portas de vidro, entrando num dos táxis que esperava lá fora. E fora-se embora antes de Royce ter tido tempo de anotar a matrícula do mesmo.

– Bolas – murmurou. Odiava perder, mesmo que fosse apenas um capricho passageiro.

Um entretenimento passageiro?

Aquilo não fazia justiça à paixão que o possuíra ao olhar para aqueles olhos. O que daria para os ver cheios de êxtase em vez de medo!

Teve uma ideia e entrou na loja da Whitmore Opals.

 

 

Gemma estava a pensar na visita inesperada de Melanie quando ouviu alguém a tossir. Surpreendida, olhou para a frente e viu um homem do outro lado do balcão, um homem de aspecto duro e com uns olhos de um azul intenso e barba de um dia.

– Desculpe, menina – replicou, com um sotaque britânico. – A senhora com quem estava a falar há um instante. A morena. Tenho a certeza de que a conheço. Era inglesa, por acaso?

– Melanie? Não, é australiana. Pelo menos, acho que sim. É… – Gemma franziu o sobrolho ao perceber que não sabia muito sobre ela, só sabia que passara vários anos a trabalhar como governanta em Belleview e que tinha um passado muito desventurado. O seu marido e o seu bebé tinham morrido num acidente de viação há alguns anos.

– Quer dizer que a conhece pessoalmente? – perguntou o turista.

– Sim, conheço-a – respondeu ela, sorrindo. – Trabalha para o meu sogro.

– O seu sogro – repetiu Royce. – Mas é demasiado jovem para estar casada.

– Bom, mas é casada – anunciou uma voz masculina.

– Nathan! – exclamou Gemma, consternada ao ver como o seu marido olhava para o inglês. Não podia estar a pensar que aquele homem queria seduzi-la!

– Este é o meu… marido – disse, nervosa devido aos ciúmes de Nathan. Não era a primeira vez que reagia assim quando alguém lhe prestava atenção. Ao princípio, ela sentira-se adulada, mas já não.

– Nathan Whitmore – apresentou-se friamente, oferecendo-lhe a mão.

– Tudo bem? – perguntou o outro homem, oferecendo a sua. – Royce Grantham.

– Bem me parecia que o reconhecia – comentou Nathan, que não parecia contente com a identidade do inglês. – O que é que o incomparável Royce Grantham está a fazer neste lado do mundo?

Gemma olhou com atenção para aquele homem. O seu nome e o seu rosto não lhe diziam nada. Algo pouco surpreendente. Só começara a perceber a sua ignorância quando começara a trabalhar na loja, há dois meses. As pessoas famosas alojavam-se sempre no Regency Hotel quando estavam em Sidney. Costumavam dar uma olhadela à Whitmore Opals e o resto da equipa brincava com ela porque não os reconhecia.

– Estou de férias – respondeu o senhor Grantham. – Acabei de chegar à sua cidade maravilhosa e estive a admirar a vista.

– Já percebi.

– Vi uma opala magnífica na montra e entrei para perguntar por ela.

Gemma olhou para o homem. Aquilo era mentira. Entrara lá para perguntar por Melanie.

– Não vou poder ficar cá até ao dia do leilão – continuou o homem. – Suponho, senhor Whitmore, que é o dono da Whitmore Opals.

– Não.

Como Nathan não deu mais informação, Gemma decidiu intervir.

– A Whitmore Opals pertence ao pai do meu marido – explicou. Porque é que Nathan estava a agir assim? Odiava aquele comportamento. Ainda bem que o senhor Grantham não parecia ofendido.

– O seu sogro?

– Sim, o senhor Byron Whitmore.

– E como posso entrar em contacto com ele?

Gemma estendeu-lhe um cartão-de-visita com todos os números de telefone da empresa.

– Os escritórios centrais não são longe daqui. Byron está por lá até às cinco. Se não, pode perguntar pela sua filha, Jade, ou pelo senhor Kyle Armstrong. É o director de marketing.

– Obrigado pela sua ajuda, senhora Whitmore. Muito amável, senhor Whitmore – baixou a cabeça como despedida e saiu da loja.

Depois de o senhor Grantham se ir embora, Gemma não conseguia olhar para Nathan. Sabia que, se o fizesse, não conseguiria conter a sua exasperação.

– Pensei em fazer-te uma surpresa e convidar-te para almoçar. Parece que cheguei mesmo a tempo.

– O que queres dizer com isso? – perguntou Gemma, levantando finalmente o olhar.

– Vai buscar o teu casaco, Gemma. Não quero discutir contigo em público.

Gemma olhou em seu redor e viu que alguns clientes olhavam para eles com curiosidade. O resto das empregadas ignorava-os. Gemma, que se sentia confusa, foi buscar o casaco e a mala.

– Vou almoçar – avisou, ao passar ao lado de outras duas empregadas. – Estarei de volta às duas.

Elas murmuraram a sua aprovação e Nathan guiou Gemma para a rua.

– Não tinhas de ser tão grosseiro com aquele homem, Nathan – indicou ela, finalmente.

– Claro que tinha. Suponho que agora vais dizer-me que não sabes quem é Royce Grantham.

– Não, não sei. Só sei que é um cavalheiro inglês.

– Não é um cavalheiro, nem pouco mais ou menos.

– Conhece-lo?

– Li coisas a respeito dele.

– E o que é? Um actor ou algo do género?

– Algo do género descreve-o melhor. Ganhou o campeonato mundial de Fórmula Um há dois anos e tinha a reputação de ser o piloto mais feroz e desumano da história.

– E? O que é que isso tem a ver comigo ou com o que aconteceu?

– Também tem fama de ser desumano com as mulheres. É um predador do pior tipo e não quero que esteja perto da minha mulher.

Gemma odiava o modo como Nathan dizia aquilo. A sua mulher. Tinha nome. Era uma pessoa, não uma posse.

– Estás enganado, Nathan. Não estava interessado em mim. No caso de quereres saber, entrou para perguntar por Melanie.

– Melanie?

– Sim. Tinha acabado de estar na loja para me mostrar o que comprou como presente de casamento para Jade e Kyle e para se certificar de que não nos tínhamos esquecido do jantar que Byron oferece em sua honra esta noite. O senhor Grantham viu-a através da montra e pensou que a conhecia.

– Meu Deus, Gemma, esse é um truque muito velho. Queria conhecer-te. Como é que um homem podia reparar em Melanie quando estava perto de uma beleza como tu? Quando vais perceber como o mundo é realmente? O mundo está podre, como a maior parte das pessoas que vive nele.

– Odeio que fales assim, Nathan. Eu sempre achei que a maioria das pessoas era boa e prefiro continuar a acreditar nisso. Por favor, não tentes mudar-me – queixou-se Gemma.

O olhar de Nathan encheu-se de amor. Ela derreteu-se. Quando olhava para ela assim, perdoava-lhe tudo, até mesmo os seus ciúmes e o seu cinismo.

– Não quero mudar-te, querida – sussurrou ele, beijando-a com suavidade. Quando o beijo se tornou mais apaixonado, Gemma afastou-se.

– Estamos na rua!

– E então?

– Queres envergonhar-me?

– Talvez queira verificar se ainda te envergonhas. Vá, vamos almoçar e conta-me o que Melanie fazia na cidade. Eu pensava que só saía de Belleview para ir ver o seu irmão aos domingos!

 

 

Melanie pagou o táxi e entrou, sentia-se aliviada ao estar novamente em Belleview.

Pensou naquele homem horrível. Tentara seduzi-la. Será que pensara que não sabia o que queria?

Mas o pior fora a forma como a fizera sentir-se por um instante. Tivera vontade de ir com ele!

Melanie tentara não o reconhecer a caminho de casa, no táxi, e conseguira concentrar-se em sentimentos como a raiva e a indignação. Mas não podia continuar a negar a realidade.

Sim, parecera-lhe atraente. Sim, sentira-se lisonjeada por ele. Sim, sentira-se tentada a beber um café com ele. E talvez, a algo mais…

Tivera a certeza de que nenhum homem voltaria a fazê-la sentir-se assim e de que aquela parte dela morrera com o seu marido e o seu filho. Depois do que acontecera com Joel, já não queria voltar a ter nada a ver com nenhum homem e, francamente, nos últimos anos da sua vida não houvera nenhum incidente que a tivesse feito pensar que não poderia continuar a viver sem sexo.

Até àquele dia…

Recordou o rosto atraente daquele homem e tremeu. Talvez tivesse sido algo passageiro, que não se repetiria. Se fosse assim, estaria a salvo. Afinal, não voltaria a vê-lo. Sidney tinha quatro milhões de habitantes e ela saía muito pouco de Belleview. Além disso, parecera-lhe inglês. Devia ser turista.

Mais tranquila, atravessou o hall, mas ao passar pelo enorme espelho dourado que pendia da parede, o seu próprio reflexo surpreendeu-a.

Será que aquela mulher corada de paixão, com as faces avermelhadas e os olhos brilhantes era ela?

Deixou escapar um grito e apoiou-se no espelho.

– Melanie! Estás bem?

Tentou recompor-se e fazer aquela expressão impassível atrás da qual costumava esconder-se, mas foi muito difícil.

– Estou… naqueles dias do mês – mentiu. – Sentir-me-ei melhor dentro de uma ou duas horas.

– Não devias ter ido às compras – indicou Ava, amavelmente. – Podia ter ido eu. Ah…

Melanie ficou gelada ao ver Ava a escorregar no último degrau. Felizmente, conseguiu agarrar-se ao corrimão e manter equilíbrio. Melanie suspirou, aliviada. Ava Whitmore, que tinha trinta anos e excesso de peso, era a pessoa mais desajeitada que alguma vez conhecera. Não havia dia que não caísse, tropeçasse ou partisse alguma coisa.

Melanie sentia pena da única irmã do seu chefe. Passava os dias a pintar aguarelas de paisagens que nunca acabava e as noites a ver filmes. Ava nunca tivera um emprego nem um namorado real. Aparentemente, Byron espantara alguns pretendentes caçadores de fortunas há alguns anos, deixando a pobre com muito pouca auto-estima e fazendo com que se fechasse em copas.

No entanto, era uma mulher carinhosa e maternal, que tinha muito para oferecer ao homem certo. E não era feia. Tinha uns lindos olhos azuis e uma boca bonita. Só precisava de perder alguns quilos, tirar aquela tinta avermelhada e voltar a deixar o cabelo da sua cor castanha original.

Para Melanie, era irónico querer para Ava o que a experiência lhe dizia que era um caminho difícil para a felicidade. Ela não era tão vulnerável como Ava e, no entanto, o homem em quem acreditara e que amara destruíra-lhe a vida e fizera com que fosse incapaz de voltar a amar.

Também pensara que Joel acabara com a sua capacidade para reagir a qualquer outro homem, porém, aparentemente, enganara-se.

– Acho que devias vir comigo à cozinha – sugeriu Ava, – fiz-te uma chávena de chá.

Melanie foi com ela e sentou-se na bancada enquanto Ava lhe fazia o chá, punha o açúcar e pegava numa chávena que, felizmente, não chegou a partir-se.

– Parece que hoje estou especialmente desajeitada – comentou, com falta de ar.

Finalmente, acabou de fazer o chá e sentou-se ao seu lado com uma chávena e vários biscoitos de chocolate. Melanie pensou que não devia comer tantos doces, mas não disse nada.

– O que achas de Jade e Kyle Armstrong terem ficado noivos tão cedo? – perguntou. – Já para não mencionar que ela foi viver com ele.

– Hoje em dia, os jovens não sabem esperar. No entanto, já era hora de Jade ser feliz. A pobre passou uma época muito difícil, com a morte da sua mãe naquele horrível acidente de barco.

– Isso é verdade – comentou Melanie.

Ainda que pensasse que Jade estava melhor sem a sua mãe, que fora uma neurótica que, felizmente, passara mais tempo internada do que em casa com o seu marido e a sua filha. Irene Whitmore estava num hospital psiquiátrico quando ela começara a trabalhar em Belleview. Talvez não tivesse aceitado o lugar se ela estivesse em casa, não teria suportado ver como tratava a sua própria filha. Será que não sabia que tinha sorte por a ter? Ainda bem que Jade era uma rapariga com carácter e que não ficara destruída com as críticas constantes da sua mãe.

A respeito do seu pai… Byron Whitmore era um patriarca da velha guarda, autoritário e machista. Sentira-se confuso com a atitude rebelde da sua filha adolescente e não compreendera o que havia por trás das suas constantes escapadelas. Segundo o que Melanie vira, Irene fora muito inteligente e não permitira que Byron presenciasse como tratava a sua filha. Era normal que a rapariga tivesse procurado o afecto fora de casa.

Jade merecia mais e obtivera-o com Kyle Armstrong. O novo director de marketing da Whitmore Opals era exactamente o que ela precisava. Além disso, parecia ter feito com que Jade se esquecesse da obsessão que tivera por Nathan, que não era homem para nenhuma jovenzinha.

O que fez com que Melanie pensasse no recente casamento entre Nathan e Gemma.

Franziu o sobrolho. Desde que Nathan trouxera a rapariga a Belleview, há alguns meses, fora evidente que ela estava louca por ele. E porque não? Nathan era muito bonito. Ela só tinha vinte anos e era uma rapariga ingénua, não condizia com um homem sofisticado de trinta e cinco.

O que nem Melanie, nem ninguém, esperara fora que Nathan se casasse com ela. A sua ex-mulher também se surpreendera com a notícia, já que se tinham divorciado há apenas dois anos e Nathan jurara que não voltaria a casar-se. A filha de ambos, Kirsty, sentira-se muito decepcionada porque tinha a esperança de que os seus pais acabassem por se reconciliar. Algo muito difícil, tendo em conta que nunca tinham estado apaixonados. Ou, pelo menos, fora o que Ava dissera.

– Parece-me que Kyle e Jade têm mais possibilidades de serem felizes juntos do que Nathan e Gemma – comentou Ava, como se estivesse a pensar no mesmo que ela.

– Concordo contigo, embora seja apenas pela diferença de idade. Nathan e Gemma têm quinze anos de diferença. E Kyle e Jade? Quantos anos é que Kyle tem?

– Acho que tem vinte e oito.

– No entanto, Gemma parecia muito feliz quando a vi hoje na cidade.

– Só estão casados há algumas semanas. Espera até acabar a lua-de-mel e Nathan se mostrar como realmente é.

A amargura de Ava surpreendeu-a. Será que também se sentira atraída por Nathan? Ainda que ela fosse imune aos seus encantos, vira-o em acção muitas vezes. No entanto, como pessoa, era uma incógnita para Melanie. Não sabia que tipo de homem era realmente.

– Fala-me de Nathan, Ava – pediu. – Tinha dezasseis anos quando Byron o adoptou, não tinha?

– Dezassete. Embora parecesse que tinha trinta, depois da vida que tinha tido.

– A que te referes?

– Tinha crescido na rua. Tinha vivido do seu engenho e suponho que também do seu corpo.

– Estás a dizer que Nathan se prostituía?

– Não exactamente. Mas ouvi Byron a contar a Irene que tinha estado a viver com uma mulher de quarenta anos. Se isso não é prostituição, não sei o que é!

– Mas era uma criança, Ava. Se isso for verdade, tens de criticar a mulher, não Nathan. Além disso, não acho que Byron tivesse trazido alguém mau para sua casa.

– Às vezes, o meu irmão é muito cego. Só viu um rapaz em perigo de se perder e quis salvá-lo. E, para lhe agradecer, Nathan aprendeu o negócio das opalas e as suas peças de teatro têm sucesso em todo o mundo. Embora me pareçam excessivas.

– Eu não vi nenhuma. De que é que não gostas?

– Do modo como as personagens se comportam. As histórias são cruéis e violentas. Não são obras que entretenham, mas que perturbam. Eu só vi uma e foi suficiente.

– Mas Nathan é uma pessoa que sabe controlar-se muito bem – murmurou Melanie.

– Sim. É estranho, não é? É um enigma. Mas sempre foi um bom pai com Kirsty e, pelo menos, casou-se com Gemma. Embora me pergunte se não o terá feito por Byron.

– A que te referes?

– Sabes que Byron gosta que as coisas se façam bem e Nathan não quer defraudá-lo. Eu fui testemunha de alguns incidentes com certas mulheres que não vou contar a Byron. Mas, quem sabe? Talvez me engane. Talvez Nathan tenha mudado. Talvez ame Gemma.

Ficaram em silêncio, pensativas. Depois, o telefone da cozinha tocou.

– Eu atendo – replicou Melanie imediatamente. – Belleview.

– Sou Byron, Melanie. Haverá mais um no jantar desta noite. Vem um cavalheiro. Espero que não haja nenhum problema.

– É claro que não.

– Lamento avisar-te tão tarde. Tenho de ir – redarguiu e desligou.

– O que se passa? – quis saber Ava.

– Nada, era Byron, queria dizer-me que haverá mais uma pessoa no jantar desta noite.

– Ah… Quem?

– Não sei. Um cavalheiro. Tenho de começar a trabalhar.

– Posso ajudar-te?

– Não, mas obrigado. Rita virá mais tarde para pôr a mesa e para me ajudar a servir. Vai pôr-te bonita. Quem sabe? Talvez o cavalheiro misterioso desta noite seja solteiro.

– Mesmo que seja, não reparará em mim.

– Não te desvalorizes, Ava. Tens muito para oferecer a um homem.

– Só o meu dinheiro.

– Isso não é verdade. És uma mulher muito atraente.

– Estou demasiado gorda. Os homens só gostam de mulheres magras e bonitas.

– Pior para eles.

Ava surpreendeu-se com o tom amargo de Melanie. A verdade era que estava um pouco estranha. Parecia… agitada. Talvez tivesse acontecido algo na cidade, algo que a aborrecera.

Ava desejou poder perguntar-lhe o que era, mas sabia que a governanta de Byron era uma mulher muito reservada. Suspirou e levantou-se.

«Nenhum homem reparará em mim», disse para si, com tristeza. «Não sei porque me incomodo em comprar roupa nova. No entanto, vou arranjar-me. Não tenho nada melhor para fazer».