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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Emilie Rose Cunningham

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Antigos amantes, n.º 967 - maio 2017

Título original: Shattered by the CEO

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9866-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

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Prólogo

 

– Tu serás o presidente da Kincaid Cruise Lines durante um ano – disse o advogado, fazendo uma pausa dramática para levantar os olhos do testamento de Everett Kincaid e olhar para Rand Kincaid, o filho mais velho do falecido. – Terás também de convencer a Tara Anthony a voltar e a ser tua assistente pessoal.

As palavras do advogado feriram Rand como se lhe tivessem disparado à queima-roupa. Recostou-se no apoio da cadeira, incapaz de respirar.

– Meu Deus, não…

O advogado permaneceu impassível. Tantos anos a trabalhar com o seu pai deviam tê-lo deixado insensível a tudo e a todos.

– Se te negares a fazê-lo, perderás a tua parte da herança do teu pai – continuou o advogado, – e o mesmo acontecerá à tua irmã e ao teu irmão. Na verdade, se algum dos três não cumprir as obrigações estipuladas no testamento, as ordens que tenho são para vender todos os negócios, todas as propriedades e todo o dinheiro do Everett à Mardi Gras Cruising. Por um dólar.

«Maldito», pensou Rand, esfregando as mãos e levantando-se da cadeira. Já devia ter imaginado que o velho iria infernizar a vida a toda a gente mesmo depois de morto.

– A Mardi Gras é a principal concorrente da Kincaid, isto para não falar do seu presidente que foi sempre o inimigo mais feroz do meu pai.

– Estou consciente disso.

Como um animal enjaulado, Rand deambulou nervoso pelo salão da mansão Kincaid com os punhos fechados. Observou o seu irmão e a sua irmã e viu nos seus olhares algo mais que medo e pânico. Viu resignação e, no caso do seu irmão, frustração e raiva contida.

Estavam ambos à espera que saísse dali a correr, como tinha feito cinco anos antes. E o ter-se negado a falar com eles desde então, apenas fez com que perdessem a confiança nele. Porém, o seu objectivo tinha sido apenas o de não os envolver na guerra que tinha travado com o pai.

Rand lutou para se livrar da camisa de força invisível que o aprisionava. Pelo Mitch e pela Nadia.

– Qualquer pessoa menos ela – disse, olhando de novo para o advogado. – Qualquer pessoa menos Tara Anthony.

Três semanas depois de lhe ter declarado o seu amor e de lhe ter pedido para passar o resto da vida ao seu lado, Tara fugira atrás de uma das fortunas mais promissoras ao ver que ele não podia comprar-lhe o anel de noivado que ela queria.

– Lamento, Rand – disse o advogado. – O Everett insistiu que teria de ser a menina Anthony.

Era uma decisão típica do déspota que o seu pai tinha sido.

– E se ela se negar? – perguntou Rand, calculando que essa iria ser a reacção de Tara.

– Nesse caso, terás de fazer com que ela mude de opinião. Não há escapatória possível.

Outro beco sem saída. A frustração corroía-o por dentro como se fosse ácido.

– Impugnarei o testamento – anunciou.

– Se algum dos três o fizer, perderão tudo – advertiu-lhe o advogado sem pestanejar.

Rand tinha vontade de esmurrar alguma coisa. O seu pai tratara de o deixar de pés e mãos atados antes de cair fulminado por um ataque de coração, há três dias atrás, na cama de uma das suas amantes. Teria de haver alguma solução. E teria de encontrá-la.

Rand colocou as mãos em cima da mesa e olhou para o advogado.

– Richards, você sabe tão bem quanto eu que o meu pai devia estar senil para redigir um testamento como este.

– Não estava, Rand – respondeu-lhe o irmão, Mitch, antes que o advogado conseguisse dizer alguma coisa. – Eu teria percebido se estivesse. Trabalhava com ele todos os dias. E se tu não tivesses desaparecido, também terias percebido – acrescentou, sem ocultar o seu aborrecimento.

– O papá pode ter sido um homem insensível e imoral, mas não estava louco – disse Nadia, expressando a sua concordância com o que Mitch tinha dito.

– E tu, por que não protestas? – perguntou Rand a Mitch, com o dedo apontado. – O cargo de presidente deveria ser teu.

– O papá decidiu que fosses tu – respondeu, contendo-se.

– Não faz sentido – disse Rand. – Tu foste sempre o preferido dele, o seu braço direito. Eu sempre fui o saco de pancada.

Nunca lhe tinha batido fisicamente, mas tinha competido desumanamente com ele nos desportos, nos negócios e com as mulheres.

– Este novo princípio de todos ou nenhum parece-me uma total estupidez – disse Rand. – Particularmente, vindo de alguém que fez sempre tudo para nos afastar.

– Pois parece que, na hora da morte, quis garantir que estaríamos unidos – disse Nadia.

– Durante este último ano – pigarreou Richards, – o Everett apercebeu-se de que tinha cometido alguns erros. O que pretende com isto é que vocês o ajudem a rectificá-los.

– Continuando a comandar as nossas vidas desde o inferno? – perguntou Rand, sentindo o peso do testamento do pai como uma laje sobre seus ombros.

«Ainda não percebi que raio de jogo é queres jogar, velho, mas garanto-te que desta vez vou ganhar», pensou Rand.

Estava decidido a vencer mesmo que isso implicasse ter de voltar a ver Tara.

– Que seja feita a vontade dele – anunciou, olhando fixamente para o irmão. – Voltarei para a KCL e farei uma oferta irrecusável à Tara Anthony.

Capítulo Um

 

O som da campainha da porta ressoou por toda a casa no preciso momento em que Tara estava a descalçar as sandálias.

Apoiando-se numa coluna para não perder o equilíbrio, pensou em ignorar, ainda que, quem quer que fosse, deveria tê-la visto entrar uns minutos antes.

A campainha voltou a tocar.

Deveria ser outro agente imobiliário a querer fazer-lhe uma oferta pela sua velha casa, para depois a demolir e construir, no seu lugar, uma luxuosa mansão, tal como tinha acontecido com a maioria dos seus antigos vizinhos. Nos últimos tempos, aquele bairro de Miami estava muito na moda. Mas não era capaz de ceder. Tinha-o prometido à sua mãe.

Tara sacudiu o cabelo para trás. Depois do dia horrível que tinha tido, a última coisa de que precisava era de uma conversa com um agente imobiliário. O banho quente que tinha planeado e o jantar na Bem & Jerry’s teriam de esperar mais um pouco.

Disposta a despachar o mais rapidamente possível quem quer que estivesse a tocar à campainha, atravessou o vestíbulo e abriu a porta.

O homem alto e de ombros largos que estava à sua frente ocupava toda a largura da porta. Tara deu um passo atrás em estados de choque.

– Rand… – murmurou.

Uma leve brisa agitou o cabelo cor chocolate de Rand e os seus olhos castanhos percorreram o seu corpo de alto a baixo.

Uma torrente de emoções invadiu-lhe o peito. Vergonha. Dor. Fúria. Mas, ao mesmo tempo, um calor suave despertava dentro de si. Poderia ser amor? Seria possível que ainda tivesse restado algum vestígio daquele sentimento incómodo?

«Tens a certeza de que ainda te sentes ligada a este homem, que não vês e com quem não trocas uma palavra há mais de cinco anos?».

– Posso entrar?

Pediu-o com um tom educado, correcto, o oposto da forma fria e cruel como a tinha tratado da última vez que se tinham visto.

«Não perdeste tempo, não foi?», pensou Rand. «Como não me conseguiste aldrabar, foste atrás de outra vítima. Mas agora vais ter de fazer marcha atrás. O velho quer que tu voltes porque pensa que é o que eu quero. Mas eu já te tive, Tara, e acabei tudo contigo.»

Voltou a sentir o arrepio que tinha sentido naquela noite em casa dos Kincaid. Cruzou os braços sobre o peito tentando defender-se das recordações negras que lhe vinham à memória e olhou para o homem que estava à sua frente.

– O que é que queres, Rand?

Olhava-a sem pestanejar, sem fazer um único movimento, sem se vislumbrar um único vinco no seu elegante fato escuro, conjugado com uma camisa branca e uma gravata vermelha, como se estivesse ali contra a sua vontade, como se tivesse a mesma necessidade que ela de terminar aquele encontro o mais rapidamente possível.

– Preciso de falar contigo sobre as últimas vontades do meu pai – respondeu.

Everett Kincaid.

– Ouvi dizer que faleceu há pouco tempo – disse ela. – Lamento.

– És referida directamente no seu testamento – disse Rand, não mostrando qualquer preocupação com a situação.

Everett sempre fora amável com ela, mas por que razão o seu antigo patrão se teria lembrado dela antes de morrer, ainda por cima tendo em conta a forma como ela tinha saído do círculo da família Kincaid?

– Deixou-me alguma coisa?

– Não – respondeu, com uma expressão séria. – Mas, se tu não acederes a fazer o que ele pediu, nós perderemos tudo.

Tara ficou surpreendida com o tom dramático que ele tinha utilizado. Nunca fora um homem de andar com rodeios, sempre fora directo, nunca deixando dúvidas sobre o que queria e o que não queria.

Tara passou a mão pelo cabelo e pensou se ele se teria apercebido de que o tinha cortado e de que estava mais magra. Ou talvez tivesse ido para a cama com tantas mulheres que os rostos se misturavam todos na sua memória, confundindo uns com os outros? Teria ela deixado alguma lembrança indelével dentro dele?

Cinco anos antes, tinha-se apaixonado por ele apesar da sua reputação. Mas, nessa altura, tinha vinte e quatro anos e não era mais do que uma miúda tímida e ingénua. Pareciam ter passado décadas desde essa altura. A morte da mãe tinha-a obrigado a crescer com uma enorme rapidez.

Ainda que tivesse vontade de o mandar ir dar uma volta, a curiosidade falou mais alto.

– Entra – disse, afastando-se para o deixar entrar.

Quando Rand passou à sua frente, sentiu o seu perfume, um aroma que sempre a tinha inebriado desde o dia em que se conheceram, um cheiro que a tinha apunhalado pelas costas, infligindo-lhe uma dor tão intensa como a traição de um amigo.

Mas tinha de ser honesta consigo mesma. Desde o início que Rand lhe tinha dito que não estava interessado em assumir compromissos a longo prazo. Ela é que tinha quebrado as normas ao apaixonar-se por ele.

E como é que o poderia ter evitado, sendo ele um homem tão atraente, inteligente, atencioso, cavalheiro e maravilhoso na cama? Como é que o poderia ter evitado quando ele era tudo o que ela sempre sonhara?

Nunca deixou de se questionar sobre a possibilidade de ele ter mudado de opinião sem nunca lhe ter dito o que sentia. Mas tinha feito exactamente o contrário. Três meses depois de estarem juntos, depois de terem feito amor, confessara-lhe tudo o que sentia por ele.

O que as suas palavras provocaram foi a fuga imediata de Rand. Desaparecera do seu apartamento como um raio e, de seguida, abandonara o país.

– Não se parece em nada com o teu antigo apartamento – disse ele, franzindo a testa.

Pelos vistos lembrava-se. Contra a sua vontade, o coração deu uma reviravolta no peito.

– Esta é a casa da minha mãe e dos meus avós – disse ela, observando os móveis de estilo tradicional.

– A tua mãe está em casa? – perguntou ele, espreitando para a cozinha.

– A minha mãe morreu – respondeu ela, sentindo como se uma lâmina fria a rasgasse em duas provocando-lhe uma dor que parecia não ter fim.

– Quando foi?

Tara agradeceu-lhe em silêncio por ter reagido de uma forma tão civilizada, mas não queria falar daquele assunto com ninguém. A ferida ainda estava muito aberta.

– Há um ano – respondeu ela. – Mas não deve ter sido isso que te trouxe aqui. Podes ir directo ao assunto, por favor? Desculpa, mas já tenho planos para esta noite.

Planos para ficar sozinha, tal como sempre tinha acontecido desde a morte da sua mãe. Dia após dia, sonhando partilhar a sua solidão e a sua dor com alguém, mas rejeitando todos os homens por ser incapaz de se imaginar com alguém que não fosse Rand. Nunca mais voltara a encontrar a intimidade e a magia que tinha vivido com Rand, tal como também não encontrara qualquer consolo durante esses últimos cinco anos. Os homens que tinha conhecido durante esse período só tinham aumentado ainda mais a sua sensação de vazio.

– O Everett exigiu que eu volte para a KCL como presidente… – começou por dizer.

– Voltar? – interrompeu ela. – Mas tu saíste da Kincaid Cruise Lines? Quando? Porquê? Essa empresa era a tua vida.

– Sim, saí – respondeu ele, retirando importância ao facto. – Mas o meu pai deixou estipulado que queria que eu voltasse com a condição adicional de te contratar como assistente pessoal durante um ano.

Aquela revelação de Rand fez com que Tara se esquecesse de todas as perguntas às quais ele não tinha respondido.

– Eu? Porquê? E, sobretudo… por que razão eu teria de aceder a isso?

– Se não o fizeres, o Mitch e a Nadia perderão os seus empregos, as suas casas… Perderão tudo.

Tara sentiu o peso da responsabilidade. Durante três anos, Nadia tinha sido a sua melhor amiga, a melhor que alguma vez tinha tido. Porém, por causa da ruptura com Rand, as coisas complicaram-se, acabando num afastamento absoluto por causa da proposta de Everett. A dor e a vergonha impediram-na de voltar a conseguir olhar para a cara de um Kincaid.

– Não percebo – disse ela. – Por que haveria ele de querer que eu voltasse ao meu antigo cargo? E porquê agora?

– Quem sabe o que passou pela cabeça retorcida do velho antes de morrer? Na prática, continua a controlar a vida de toda a gente. Deve estar às gargalhadas lá no túmulo – disse Rand, entre a amargura e a raiva.

O que é que se teria passado entre Rand e o pai? Tinham sido sempre bastante competitivos, mas não se lembrava de Rand ter sentimentos de ódio em relação ao pai.

– Não podes fazer nada para contestar o testamento? – perguntou-lhe Tara.

– Tenho um batalhão de advogados a ler o testamento, palavra por palavra, à procura de qualquer coisa por onde possa pegar, mas vai ser fifícil. A minha proposta é dez mil dólares por mês mais comissões.

– Estás a brincar, não estás?

– Não.

Aquele montante era o dobro do que tinha ganho no último ano na KCL e três vezes o seu actual salário.

Depois de abandonar KCL, esteve quatro meses à procura de trabalho. Não tinha sido fácil tendo em conta que não tinha quaisquer referências, uma vez que achou melhor não as pedir depois da forma como se tinha despedido, sem qualquer aviso prévio.

Quando finalmente conseguiu um trabalho, as suas contas tinham sido todas canceladas, tinha deixado o seu apartamento e tinha-se instalado em casa da mãe. Apesar do baixo salário no novo emprego, aceitou-o por causa da flexibilidade de horários, podendo gerir o tempo para cuidar da mãe e ajudá-la a ultrapassar os tratamentos de quimioterapia.

Mas com a morte da mãe tudo mudou. Começara a perder o interesse pelo trabalho e o seu chefe, pouco a pouco, fora-se convertendo num déspota e o horário flexível passara a significar trabalho a toda e qualquer hora.

Entretanto, começou a analisar a possibilidade de mudar de emprego, mas ir trabalhar novamente para Rand… Tendo em conta como as coisas tinham corrido da primeira vez, era uma opção muito arriscada. Aquele homem já lhe tinha partido o coração uma vez. Era preciso ser muito ingénua para se voltar a colocar na boca do lobo.

– Lamento – disse Tara. – Não estou interessada.

– Quinze mil dólares por mês – disse Rand, reforçando a sua proposta.

Tara olhou para ele quase ofendida pelo escandaloso valor que lhe estava a propor. O trabalho da sua mãe como costureira não lhe permitira levar uma vida muito folgada e nem sequer tinha feito um seguro de vida. Com a sua morte e tirando aquela casa, Tara só tinha herdado dívidas. Com o salário que Rand lhe estava a oferecer, poderia pagar as facturas da clínica que tinha tratado da mãe e que ainda estavam por pagar, assim como algumas outras dívidas.

A tentação era grande. Por que tinha de ser Rand Kincaid a fazer-lhe uma proposta daquelas?

– Não é uma questão de dinheiro, Rand – disse ela.

Rand agitou as mãos dentro dos bolsos do casaco.

– Bom, eu já percebi que não queres ter nada a ver comigo – disse ele. – Mas pensa na Nadia e no Mitch. Aceita, pelo menos por eles. Nenhum deles merece isto. Faz tu o teu preço, Tara.

Tara observou-o minuciosamente. O bom senso dizia-lhe que devia recusar a proposta. No entanto, uma pequena parte da sua cabeça não fazia outra coisa que recordar-lhe o quão fantástico tinha sido o tempo que passaram juntos. Ao seu lado, tinha-se sentido especial, importante, tinha vivido o período mais feliz da sua vida.