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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Sara Craven

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sob suspeita, n.º 433 - dezembro 2018

Título original: Marriage Under Suspicion

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-174-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

«Esta foi, definitivamente, a pior manhã da minha vida», pensou Kate enquanto atravessava o enorme hall do hotel. Afundou-se numa poltrona perto da janela. Tirou com discrição os sapatos, massajando um dos pés na outra perna.

Lá fora, por cima do relvado iluminado pelo sol, o lindo toldo octogonal com riscas vermelhas e brancas estava a ser removido.

Kate recordava-se dos numerosos telefonemas que tinham sido feitos para a organização daquela festa. Recordava-se do trabalho que tiveram a fim de que tudo saísse bem.

Por todo o hotel, a preparação do menu para duzentas e cinquenta pessoas cessara; o champanhe estava a ser levado de volta à adega, juntamente com os vinhos; e os telefones continuavam a ser usados para se comunicar aos convidados que a presença deles não seria necessária.

Kate suspirou e abriu a pasta, percorrendo com o dedo a lista, para verificar se todos tinham sido avisados. Organizar uma festa de casamento era um trabalho complicado. Cancelá-la no próprio dia era quase tão complexo e provavelmente duas vezes mais confuso.

«Maldita Davina Brent», reflectia ela com irritação, percorrendo nome por nome. Não podia ter mudado de ideias um mês, uma semana, até um dia antes do casamento?

Além de não ter causado todo aquele transtorno, livraria a sua família de uma despesa enorme, pois muitas contas teriam de ser pagas.

Era a primeira vez que isso acontecia a Kate e Louie, desde que as duas tinham organizado o copo-de-água. Eram amigas dos tempos de liceu, e desde o início todas as festas tinham obtido grande sucesso. O que se teria passado com a linda Davina? Nas discussões preliminares que Kate tivera com os noivos a sua impressão fora de que eles se amavam muito.

De repente, Kate deu um pulo quando um copo foi colocado diante dela. Um martini, e servido ao seu gosto, bem gelado, bem seco, e com uma gota de limão. Só que… não o tinha pedido.

– Deve ter havido um engano – disse ela, virando-se para o empregado. Mas, em vez do empregado, deparou-se com Peter Henderson, irmão do noivo e padrinho do casamento frustrado, agora já vestido à vontade, de calças de ganga e t-shirt.

– Não foi engano – explicou ele. – Você tem o aspecto de quem precisa de uma boa bebida. Também estou a tomar um uísque – ele apontou para o copo que tinha na mão.

– Obrigada pela gentileza. Mas acontece que não bebo em serviço.

– Achei que, perante as circunstâncias, você já estaria fora da sua hora de trabalho.

– Tenho ainda algumas coisas a fazer.

– Posso sentar-me ao seu lado? Ou vou atrapalhá-la?

– Claro que pode. Sente-se, por favor – ela procurou pelos sapatos que estavam debaixo da mesa.

– Permite-me que a ajude a calçá-los? – ele ajoelhou-se aos pés dela antes de se sentar.

– Obrigada – Kate percebeu que corava. – Desculpe o incómodo que lhe causei.

– Não há problema – Peter examinou-a dos pés à cabeça, com um olhar de apreciação. Gostou dos cabelos louros, do corpo esbelto, do fato elegante cor de coral, da blusa de seda preta. Sentou-se à mesa e tocou no copo dela com o seu.

– Vamos beber em homenagem a quê? – perguntou ele. – Ao amor e à felicidade?

– Perante as circunstâncias, isso poderia ser algo como desejar o impossível – observou Kate secamente. – À nossa saúde – disse ela por fim, erguendo o copo. – Como vai o seu irmão?

– Não muito bem. Arrasado, na verdade – respondeu Peter.

– Posso acreditar. Eu… eu sinto muito.

– Talvez tenha sido melhor assim. Se existe alguma dúvida, um rompimento agora é preferível a um divórcio mais tarde, quando os filhos já poderão estar envolvidos.

– Acho que sim – concordou Kate. – Mas pareciam um par tão bem combinado. Você sabe qual terá sido a causa?

– Imagino que qualquer problema, mesmo insignificante, pode ser monstruoso aos olhos de uma noiva nervosa – Peter olhou para a aliança no dedo de Kate. – Você, que já foi noiva, não acha que tenho razão?

– Céus, isso aconteceu há tanto tempo! Já nem me lembro.

– Não pode ter sido assim há tanto tempo, a menos que fosse uma menina quando se casou.

– Oh, por favor, sou casada há cinco anos.

– Uma existência! – Peter esboçou um sorriso divertido. – Alguma queixa? Algum arrependimento?

– Nenhum. Somos muito felizes. Extremamente felizes – acrescentou ela, perguntando-se depois porque é que necessitara de tanta ênfase na sua afirmação.

– Filhos?

– Ainda não. Ambos trabalhamos muito para construir as nossas carreiras. No caso de Ryan, houve uma mudança de carreira – acrescentou ela.

– Algo que você não aprovou?

– Pelo contrário – Kate retesou o corpo. – O que o faz pensar assim?

– O facto de ter terminado de tomar o seu martini antes de mencionar isso.

– Foi um mal-entendido, sinto muito. Mas os martinis são a minha fraqueza.

– Quer mais um?

– Tento limitar-me a um, enquanto trabalho, ou a nenhum.

– Porém, já não está a trabalhar, concorda? Além disso, o seu trabalho não é comigo. Consigo, apenas tento encontrar algum consolo.

– Nesse caso, não acha que deveria estar com o seu irmão em vez de estar comigo?

– Andrew está com os meus pais. Vão levá-lo para a casa deles por alguns dias. Não sei se isso é bom ou mau, pois a minha mãe é muito emotiva. E ela nunca gostou muito da futura nora. Mas tenho a impressão de que a formalidade exagerada do casamento irritou Davina.

– Acha mesmo?

– Acho, e não fico surpreendido se os dois se casarem um dia apenas com duas testemunhas num departamento do Registo Civil. Nenhum deles queria toda esta encenação.

– Espero que tenha razão.

– A culpa é dos pais de ambos – disse Peter. – Eles forçaram a encenação, com uma lista enorme de convidados.

– Em geral, é o que todos os pais fazem – concordou Kate. – Eu odiaria que me fizessem isso.

– Quer dizer que não se vestiu de noiva, que não houve uma fila de carros para a igreja e centenas de convidados no seu casamento?

– Houve essa fila de carros, mas eu não estava na igreja. Fizemos o que você acha que Andrew e Davina irão fazer. Casámos num departamento do Registo Civil pela manhã, com duas testemunhas apenas.

– Depois disso você e o senhor Dunstan foram felizes para sempre.

– Fomos. Mas o nome do meu marido não é Dunstan, esse é o meu nome. O meu marido é Ryan Lassiter.

– Ryan Lassiter, o escritor?

– Esse mesmo. Você é um dos seus admiradores?

– Sou – respondeu Peter. – Comecei a minha vida profissional como corretor de imóveis. Li Justified Risk assim que o livro foi publicado. Adorei. Uma combinação de negócios e romance. Li o segundo, tão bom como o primeiro, o que em geral não acontece.

– Vou contar isso a Ryan. Felizmente muitas pessoas são da sua opinião.

– Ele está a trabalhar no terceiro?

Kate sacudiu a cabeça, dizendo:

– No quarto. O terceiro está no prelo e será publicado em Setembro.

– Mal posso esperar. Quer dizer que enquanto o seu marido escreve você ocupa-se da empresa de catering?

– Sim – Kate deu-lhe um cartão. – Fique com isto para o caso de querer organizar uma festa. Quem sabe uma festa de casamento? – Kate lançou-lhe um olhar malicioso.

– Deus me livre disso!

– É contra casamentos?

– Não sou contra o dos outros. Embora reconheça que, um dia, posso mudar de ideias.

Os olhares de ambos cruzaram-se, e Kate foi a primeira a desviar o olhar, embaraçada.

«O que estará a acontecer comigo?», perguntou-se ela. «Sou uma mulher adulta, já fui provocada outras vezes, mesmo muitas vezes. Porque é que desta vez foi diferente?»

Com esforço que ela reconheceu ser deliberado, levantou-se, sorriu para Peter, e disse:

– Obrigada pela bebida. Agora tenho mesmo de ir.

– Tem mesmo? Pensei que uma vez livre do seu trabalho desta tarde, pudesse jantar comigo. Decidi passar esta noite no hotel, de qualquer maneira.

– E eu decidi voltar para Londres o mais cedo possível – Kate falou de forma mais abrupta do que desejara.

– Está a fugir, senhora Dunstar? – Peter sorriu, um sorriso irónico. – Posso chamar-lhe Kate?

– Se preferir… Embora eu não saiba porquê. A menos que decida dar uma festa um destes dias, há poucas oportunidades de nos encontrarmos de novo. Mesmo que Andrew e Davina resolvam casar, não contratarão os nossos serviços uma segunda vez.

– Sou optimista. Em tudo. E acredite, senhora Lassiter, se e quando eu decidir desaparecer definitivamente da sua vida, será a primeira pessoa a saber.

– Adeus, senhor Henderson.

E ela saiu do salão, sem olhar para trás.

 

 

Foi à casa de banho e ficou feliz por a encontrar vazia. Estava furiosa e esperava que se tivesse retirado do salão com dignidade.

Penteou os cabelos, retocou a maquilhagem e lavou as mãos.

«Confessa», Kate, dizia ela a si mesma, «que ficaste tentada». Afinal, Ryan não a esperava senão no dia seguinte. E tudo não passara de um convite para jantar. Que mal haveria em aceitá-lo? O seu casamento era sólido como uma rocha. Não era?

De repente, ela teve a impressão de que Ryan estava à sua frente, alto, rosto de traços firmes, atraente, mais do que bonito. A imagem era tão real que podia sentir até o aroma dele. Tão sexy, que Kate sentiu todo o seu corpo vibrar em inesperada excitação.

Imaginou qual seria a reacção de Ryan se descobrisse que ela se sentira tentada, mesmo que por um segundo, a aceitar o convite de Peter Henderson.

Fechou os olhos, afastando a imagem de Ryan e apagando todo o incidente. Fora um breve momento da sua vida.

Em voz alta, disse:

– Está na hora de eu me ir embora.

Antes de sair, ligou para casa. O atendedor respondeu, o que significava que Ryan estava a trabalhar.

– Olha, querido – disse ela. – O casamento foi cancelado, e volto o mais cedo que puder. Porque é que não jantamos fora esta noite? Sou eu a convidar. Vê se podes reservar uma mesa no Chez Berthe.

Ao sair, a recepcionista do hotel chamou-a.

– Um minuto, senhora Dunstan. Quase me esquecia. Deixaram isto para a senhora – e a moça, sorrindo maliciosamente, entregou-lhe um envelope com a indicação «para a senhora Dunstan», em letras garrafais.

– Obrigada – Kate agradeceu e colocou a carta na mala.

«Não posso imaginar que outros problemas tenham surgido», pensou. «Mas, se os houver, podem contactar-me pelo telemóvel».

No carro, abriu o envelope. Era um cartão de Peter Henderson com o número do seu telefone particular no verso. E, em baixo, ele escrevera: Eu disse que era optimista.

Kate quis atirar o cartão pela janela, mas resolveu conservá-lo para acrescentar o nome dele à lista dos clientes da sua empresa. Seria apenas um contacto de negócios. E fim de prosa.

O trânsito estava excepcionalmente bom. Ela chegou a casa antes da hora que esperava e estacionou o seu carro ao lado do Mercedes de Ryan.

O edifício de apartamentos onde moravam situava-se na margem do rio, e eles ocupavam o duplex do último andar. Em baixo havia uma cozinha bastante grande, uma casa de banho, o escritório onde o seu marido trabalhava e a sala. Em cima ficava o quarto e mais uma casa de banho. Os soalhos eram de madeira pálida, os tectos altos, e a vista de todas as janelas, magnífica.

Cada vez que abria a porta da frente para entrar em casa Kate sentia uma felicidade imensa. Era muitíssimo superior ao lugar onde moraram antes, a cave de uma casa vitoriana onde os soalhos rangiam, as janelas se abriam com dificuldade, a canalização deixava muito a desejar. Passaram o primeiro ano da vida de casados a mobilar o lugar, percorrendo lojas de artigos de segunda mão e a comprar o absolutamente necessário. Ao mudarem-se, venderam quase tudo aos novos moradores.

Para o apartamento actual, Kate escolhera as cores creme e marfim, com um toque de cor-de-rosa aqui e ali. E funcionou, ficara lindo.

Entrou sem fazer barulho porque Ryan devia estar a trabalhar e era importante não o perturbar. Ele gostava de paz enquanto escrevia, embora fosse tolerante a algumas interrupções, em especial quando Kate entrava com uma chávena de café.

«Dou-lhe meia hora antes de lhe levar alguma coisa para comer», pensou ela, atirando a pasta para o sofá.

– Ryan, estás aí? – perguntou.

Nenhuma resposta. Mas ele devia estar em casa. Estava sempre… Além disso, o carro continuava no estacionamento.

O atendedor tinha a luz acesa, acusando a existência de recados. Kate ouviu-os, incluindo o seu, que não fora ouvido.

Ela procurou então pelo marido no quarto, nas casas de banho, no escritório. Nada de Ryan e nada de recado.

Claro, Kate conformou-se, Ryan só a esperava no dia seguinte.

Mas não deixou de ficar terrivelmente desapontada. Voltara para casa como uma louca para o ver, e não o encontrara. Suspirou. Precisava de preparar alguma coisa para o jantar. Abriu o frigorífico e encontrou atum e anchovas. Começou a trabalhar na cozinha imaginando que Ryan voltaria em breve. Devia estar por perto, pois não levara o carro. Mas, porque é que o apartamento estava tão arrumado, como se não tivesse estado lá ninguém o dia inteiro?

«Oh, pára com isso, Kate!», disse a si mesma. «Estás apenas desapontada. Não te comportes como uma paranóica».

Ela foi à cozinha e pôs água a ferver para preparar um café. Começou a ocupar-se do jantar; queria fazer uma surpresa a Ryan quando ele chegasse. Ao aproximar-se da lava-loiça viu dois copos de cristal que tinham sido usados.

Ryan não era amante de champanhe. O que estaria ele a celebrar? E com quem?

Talvez Quentin, o seu agente, o tivesse visitado com notícias acerca da possibilidade do último livro ser usado num filme.

Kate mal podia acreditar no modo como a carreira de escritor de Ryan fora maravilhosa. Ficara horrorizada quando o marido lhe comunicara que deixaria o seu trabalho no mercado de capitais para se tornar escritor. Tentara fazê-lo reflectir sobre os riscos de mudar de emprego. Mas Ryan fora irredutível.

 

 

– Não gosto do tipo de vida que levo – dissera ele. – Olho para os homens à minha volta e imagino-me igual a eles. E não gosto nada do que vejo. Tenho agora uma oportunidade para mudar de profissão, e não quero perdê-la. Mas não te preocupes, Kate, tenho algum dinheiro economizado e não te deixarei morrer à fome.

– Eu não estava a pensar em mim, Ryan. Mas, como é que sabes que vais ser um bom escritor?

– Nunca poderei saber, a menos que tente.

– Está bem. Se a coisa não der certo, teremos a minha empresa para nos manter.

– É verdade – dissera ele. – Eu já nem me lembrava.

E o primeiro livro de Ryan fora um verdadeiro sucesso. A quantia paga pelo agente Quentin Roscoe deixara Kate atónita.

– Tu és um génio – dissera ela ao marido, abraçando-o e beijando-o com paixão. – Nada impedirá o teu progresso daqui por diante.

Kate ainda se lembrava da insistência do marido em levá-la numa digressão para iniciar a promoção e a distribuição do seu primeiro livro, Justified Risk.

– Enquanto eu estiver a trabalhar, querida, tu podes fazer compras e visitar vários lugares.

– Será? Amor, eu não posso ir contigo.

– O que é que estás a dizer? É claro que vamos juntos. Já foi tudo programado.

– Nesse caso, terá de ser reprogramado. Afinal, não fui consultada. Claro que fico muito contente com o teu progresso, mas estou ocupada demais com a minha empresa para me afastar durante tanto tempo.

– Louie entenderia, se lhe explicasses.

– Não há nada a explicar. Tal como tu, estou interessada na minha carreira. Não sou um apêndice na tua vida para viver atrelada a ti.

– Não, na verdade não és – respondeu ele cortesmente. – Tu és a minha esposa, e procuro um pouco de cooperação tua nesta nova situação da minha vida.

– Pretendes que eu abandone tudo e vá por aí contigo? – Kate sacudiu a cabeça. – Sinto muito, Ryan, mas as coisas não são assim – ela hesitou. – Talvez se eu tivesse sido avisada com mais antecedência…

– Acabei de saber – Ryan fez uma pausa. – Kate, preciso de ti… por favor…

– É impossível – dissera ela com teimosia. Percebeu que Ryan empalidecera, por isso acrescentou depressa: – Da próxima vez, quem sabe…

– Naturalmente – disse ele mecanicamente. – Há sempre uma próxima vez.

Só que não houve essa próxima vez. Ryan realizou uma infinidade de digressões promocionais desde então e ela não fora incluída em nenhuma delas, embora sabendo que poderia ter ido, pois Louie incentivara-a a acompanhar o marido, declarando que cuidaria da empresa sozinha.

– Tu és uma tola – comentara a sócia. – Se Ryan fosse meu marido, eu não o deixaria andar pelo mundo sozinho.

– Ele não está sozinho – protestara Kate. – Está acompanhado por muitas pessoas; por exemplo, o encarregado da publicidade e mais gente.

– Homens ou mulheres?

– Francamente, não sei.

– Nesse caso, eu procuraria saber. Sou uma mulher solteira, mas parece-me que esse tipo de informação, quando se trata de uma esposa, deveria ser do seu conhecimento.

Louie ajeitou no rosto os óculos de aros vermelhos. Ela era mais alta do que Kate, de estrutura mais avantajada, e tinha cabelos crespos e escuros.

– Oh, não sejas ridícula, Louie. Eu confio cem por cento em Ryan.

No entanto, quando Ryan chegou, a primeira coisa que ela perguntou foi:

– Que tal a tua conversa com o publicitário?

– Com Grant? – Ryan sacudiu a cabeça. – É um rapaz simpático. Mas penso que sou o primeiro escritor do qual ele se encarrega. Como vês, ambos começámos a carreira juntos.

– Oh! – exclamou Kate, desprezando-se por se sentir aliviada.

 

 

Ouvindo o ruído da chaleira que fervia, ela voltou à realidade, um tanto assustada.

«Não, não foi esta viagem ao passado que desejei fazer», reflectia enquanto ia para a cozinha preparar o café.

Sem dúvida, o encontro com Peter Henderson perturbara-a. As perguntas dele reabriram feridas do passado que considerava cicatrizadas quase para sempre, pois raramente a incomodavam.

Na verdade, não quisera que Ryan abandonasse o antigo emprego. Jamais poderia ser culpada disso. Mas ninguém ficou mais contente do que ela quando tudo correu bem.

«E agora estamos ambos a fazer o que queremos. Temos uma vida maravilhosa, um casamento bem estruturado», dizia Kate a si mesma enquanto voltava para a sala com uma chávena de café na mão. As coisas não podiam ser melhores.

Havia um maço de cartas perto do telefone. Kate examinou-as. Propaganda, contas a pagar, etc. Torceu o nariz. Mas de súbito uma chamou-lhe a atenção. Estava num envelope creme, escrito à máquina: Kate Lassiter. O selo era de Londres.

Kate abriu-o e tirou lá de dentro uma única folha de papel.

Desdobrou-a e acomodou-se melhor para ler enquanto tomava o seu café.

Não havia um cabeçalho, nem sequer data ou saudações. Apenas duas linhas escritas com tinta negra. Apenas sete palavras que pularam da página para os seus olhos com uma força que a deixou estarrecida:

 

O seu marido ama outra mulher.

Um amigo.