sab1082.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1994 Miranda Lee

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amor e fantasia, n.º 1082 - junho 2017

Título original: Fantasies and the Future

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9840-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Ava estava sentada em frente do seu cavalete, com o pincel na mão, mas com a cabeça a milhares de quilómetros, quando o seu irmão entrou no seu estúdio.

– Ava! Não encontro o meu smoking favorito. Não está pendurado junto dos meus outros fatos. Procurei-o por todos os lados. Tens ideia de onde possa estar?

A cara de susto de Ava foi substituída por um rubor culpado.

– Eu… eh, levei-o para a lavandaria há duas semanas. Lembras-te? Tinha uma mancha de vinho do casamento de Jade.

– E? – resmungou Byron.

– Eu… eh, esqueci-me de ir buscá-lo.

Byron não disse nada. Simplesmente, olhou para ela severamente durante alguns segundos, abanou a cabeça com exasperação, virou-se e voltou a sair da sala.

Ava levantou-se, fazendo com que a sua paleta lhe caísse do colo e aterrasse no chão. Decidiu ignorar a paleta e saiu a correr atrás do seu irmão.

– Lamento muito, Byron – desculpou-se. – Não voltará a acontecer, prometo.

– Isso foi o que disseste da última vez – indicou ele, olhando para ela. – Estas últimas seis semanas foram um desastre atrás de outro. Deus sabe porque deixei que me convencesses a dar-te a oportunidade de tratares desta casa. Suponho que me deixei levar pelo teu argumento de que, dado que só viviam aqui dois Whitmore velhos, conseguirias fazê-lo. Mas era pedir demasiado!

– Talvez tu sejas velho – indicou Ava. – Mas eu não sou! Só tenho trinta anos e acho que o fiz bastante bem, tendo em conta que não tenho experiência no trabalho doméstico. Não acho que esquecer-me de ir buscar algo à lavandaria possa considerar-se um desastre. Francamente, Byron, pensei que me apoiarias em vez de me criticares. Melanie garantiu-me que tinhas mudado desde o acidente, mas vejo que continuas a ser o mesmo tirano insensível e machista que sempre foste.

Depois daquela explosão, Byron desatou a rir-se. A sua reacção apanhou-a de surpresa e ficou simplesmente a olhar para ele.

Rindo-se, o seu irmão distava muito de parecer velho. Embora estivesse prestes a fazer cinquenta anos, tinha uma boa figura, era alto e com os ombros largos. Mantinha-se em forma no ginásio que tinha no andar de baixo. O seu cabelo preto tinha toques cinzentos, mas continuava a ser forte e lustroso. A sua cara angulosa continuava a ser tão bonita como sempre, apesar de ter algumas rugas, e os seus olhos azuis continuavam a deslumbrar as mulheres.

Recentemente, Byron começara a sair com uma divorciada chamada Catherine que tinha trinta e muitos anos e uma figura espantosa. Ava, no entanto, não conseguia suportar aquela mulher, que era uma snobe. Obviamente, queria ser a próxima esposa de Byron Whitmore, mas Ava sabia que, se esse casamento chegasse a produzir-se, sairia de Belleview.

Embora não fizesse ideia de para onde iria. Não teria dinheiro próprio enquanto não se casasse, pois Byron controlava a sua herança até esse acontecimento tão pouco provável de se produzir. Enquanto isso, a única coisa que tinha era uma pequena pensão, embora a filha de Byron, Jade, lhe tivesse dado as jóias da sua mãe para que fizesse com elas o que quisesse. Mas continuavam intactas no cofre da biblioteca. Ava não queria ter nada a ver com algo que tivesse pertencido a Irene.

– Sabia que tinhas temperamento em alguma parte, Ava – brincou Byron. – És a minha irmã afinal de contas. Portanto, Melanie pensa que mudei, eh? Ainda estou a tentar superar o facto de a nossa anterior governanta ter caçado um dos desportistas mais famosos do mundo. O próximo será descobrir que estiveste a ter uma aventura secreta com o motorista.

– Não temos motorista! – exclamou Ava. – Embora talvez fosse boa ideia ter um. Então, não terias de ficar a dormir em casa das mulheres simplesmente porque bebeste demasiado e eu teria alguém que me levasse para fazer todas as tarefas que tenho de fazer ultimamente.

O coração de Ava acelerou ao pensar nisso. Fora uma das suas fantasias recorrentes durante os últimos anos, ser uma herdeira bonita que contratava um jovem italiano atraente para ser o seu motorista e, depois, se apaixonava por ele. Os italianos apareciam frequentemente nas suas fantasias. O seu aspecto sombrio e a sua atitude firme com as mulheres pareciam-lhe muito excitantes.

Claro que nunca acontecia nada demasiado sexy nem sórdido nas suas fantasias. Sendo virgem e terrivelmente tímida com o sexo oposto, Ava nunca se imaginara a fazer mais do que abraçar ou beijar um homem. Seria porque não conseguia imaginar-se a despedir-se à frente de um?

– Por cima do meu cadáver! – exclamou Byron. – Muitos motoristas são os sedutores típicos. Não te deixaria estar perto de um desses jovens atraentes sem escrúpulos que costumam oferecer-se para esses trabalhos.

– Como se um jovem atraente fosse reparar em mim. Eu não sou Celeste Campbell.

Ava podia ter mordido a língua antes de ter mencionado esse nome odioso. Os olhos de Byron toldaram-se e cerrou os dentes para controlar a sua raiva. Houvera um tempo, depois da tentativa de roubo no baile há dois meses, em que o seu irmão falara da sua cunhada escandalosa com uma certa admiração. A sua defesa naquela noite, empregando as suas habilidades indubitáveis como uma perita das artes marciais, deixara-o claramente impressionado. Ou talvez, dado que ela acabara de recuperar o Coração de Fogo, a opala que se dizia que tinha causado o ódio entre os Whitmore e os Campbell, tivesse decidido deixar o passado em paz.

Mas isso não podia ser. Celeste fora ao hospital para visitar Melanie, com o seu novo motorista atrás. Depois, ficara claro para o resto das visitas de Melanie, entre as quais se encontravam Byron e Ava, que o jovem atraente era o último amante da directora da Jóias Campbell. E qualquer esperança de reconciliação ficou destruída. Byron argumentara durante o caminho de regresso que Celeste era uma desonra para as mulheres.

– Uma mulher como Celeste pode cuidar de si própria – indicou Byron, naquele momento. – Enquanto uma inocente como tu, querida, seria uma presa fácil para esses jovens sem consciência que ela come ao pequeno-almoço. Não haverá motorista aqui em Belleview. Por favor, não voltes a falar do assunto!

– Nem me passaria pela cabeça.

– Pobre Ava… às vezes, sou muito duro contigo. Não o faço de propósito. A sério. Sabes que desejo sempre o melhor para ti, não é? Perdoas-me por gritar?

– Sim – murmurou.

– Agora tenho de ir. Tenho de estar em casa de Catherine às oito. Na verdade, não te preocupes com o meu pequeno-almoço de amanhã. Passarei a noite em casa dela. Ficarás bem sozinha?

– É claro – respondeu ela. – Sou uma mulher adulta, Byron. Porque não havia de ficar bem?

O sorriso do seu irmão sugeria que, ainda que fosse uma mulher adulta em anos, não era em experiência.

– Nesse caso, vou-me embora. Está tudo trancado no andar de baixo. Verifiquei duas vezes. Ver-te-ei amanhã à noite.

– Boa noite, Byron! – despediu-se ela. – Espero que te divirtas.

– Fá-lo-ei.

Ava fez uma careta ao ver como Byron se afastava pelo corredor. «Aposto que o fará», pensou, furiosa. «Todos nesta família se divertem menos eu. Tu estás a ter uma aventura com a bonita Catherine. Melanie instalou-se numa mansão inglesa com o seu marido deslumbrante, o piloto de corridas. Jade casou-se com o seu namorado multimilionário e Nathan, parece estar a conseguir esconder a sua verdadeira personalidade à sua inocente mulher.»

A irritação de Ava manteve-se até Byron desaparecer pelas escadas e ela ter de enfrentar a ideia de passar a noite sozinha naquela casa. A ideia deixava-a um pouco nervosa, mas admiti-lo só teria confirmado a opinião do seu irmão de que continuava a ser uma menina no corpo de uma mulher.

O som da porta principal a fechar-se confirmou que estava sozinha e um calafrio percorreu as suas costas. Aquilo irritou-a mais ainda. O que pensava que podia acontecer? Se entrasse um violador louco pela janela, olharia para ela e fugiria.

Com uma gargalhada sarcástica, Ava virou-se e regressou ao seu estúdio, onde apanhou a paleta do chão e deixou-a na mesa. Cruzando os braços, observou a aguarela em que estivera a trabalhar, sem encontrar satisfação naquela paisagem por acabar. Algo não estava bem. As sombras ou as cores que escolhera. Ou talvez fosse o tema. Tentara pintar aquela cena em particular várias vezes.

A sua insatisfação aumentou e, poucos segundos depois, deu por si a tirá-la do cavalete e pô-la contra a parede com os outros quadros inacabados. Obviamente, estavam virados para não ter de olhar para eles.

Deitou-se no seu velho sofá, batendo nas almofadas com frustração. «Porque não posso ter sucesso em nada?», pensou. «Realmente pensei que podia ocupar-me da casa. Pensei que…».

O discurso mental de Ava foi interrompido pelo som de uma porta a fechar-se em algum lado. Os seus olhos azuis esbugalharam-se e o seu coração acelerou. Será que Byron regressara? Haveria uma janela aberta? Ou será que estava prestes a ser assassinada no seu quarto?

– Tia Ava! – gritou uma voz feminina. – Onde estás? Sou eu, Jade!

O sangue mal teve tempo de regressar ao rosto de Ava antes de a sua sobrinha exuberante aparecer à porta do estúdio.

– Ah, estás aqui! – sorriu. – Sabes que a televisão não está ligada, não sabes?

Ava levantou-se com um suspiro de cansaço. Às vezes, Jade tinha aquele efeito nela. A energia da rapariga fazia com que se sentisse velha, ainda que se sentisse agradecida por poder contar com a sua companhia.

– Só estava a descansar – indicou Ava.

– Não te sentes bem? – perguntou Jade.

– Estou bem. Embora me sentisse melhor se o teu pai fosse um pouco mais fácil de agradar.

– Sei o que queres dizer, tia. Sinto pena de ti. Precisas de encontrar um marido e sair daqui.

Ava teve de se rir. Encontrar um marido?

– Acho que Kyle não gostaria de pensar que te casaste com ele para saíres de casa.

– Não acho que pense isso – indicou Jade com um sorriso perverso, enquanto acariciava a barriga, ligeiramente arredondada. – Casei-me com ele por outras razões.

Ava fez o possível para ignorar a pontada de dor e de inveja que sentiu no seu coração.

– Vem cá e fala comigo – prosseguiu Jade, – enquanto vejo se a roupa que deixei aqui serviria a uma grávida.

Caminharam pelo corredor até ao quarto de Jade, onde Ava se sentou na cama enquanto a sua sobrinha começava a rebuscar pelas gavetas e armários.

– Como estás a sair-te com a casa? – perguntou. – Está a correr bem?

– Mais ou menos, embora duvide de que o teu pai esteja de acordo. Claro que ainda não consigo cozinhar nada complicado, portanto temos uma cozinheira que vem todas as noites. Mas faço o pequeno-almoço e quase todas as tarefas domésticas. E uma mulher vem às segundas e sextas-feiras para engomar e limpar algumas coisas.

– Estou impressionada, tia! Afinal de contas, nunca tinhas feito tarefas domésticas, pois não? Não é que eu seja melhor. Até me custa pôr água a ferver.

– Não exageres, Jade. És uma rapariga muito inteligente. O teu pai está muito orgulhoso de ti e do que fizeste pela Whitmore’s. Diz que nasceste para te dedicares ao marketing.

– O meu pai disse? Meu Deus, então devo ser boa, não é?

– Há muitos significados para a palavra «boa».

– As coisas que dizes… – replicou Jade. – Diz-me, o que mais é que o meu querido pai esteve a fazer para te incomodar, para além de se meter em tudo o que fazes ou deixas de fazer?

– Para começar, tem uma aventura. Com a tal Catherine

– Não podes culpá-lo por isso. Continua a ser um homem jovem. Porque não gostas dela?

– É uma snobe.

– Ele também – indicou Jade, rindo-se.

– Sim, mas não o mesmo tipo de snobe. Byron tem classe e… e… padrões.

– Meu Deus, tenho de conhecer essa Catherine. E depressa! E, além disso, tenho a oportunidade perfeita. Kyle e eu queremos fazer uma festa de aniversário para o meu pai. É na semana que vem, sabes, não é?

– Meu Deus, tinha-me esquecido! – exclamou Ava. – Esqueço-me de tudo. Primeiro, esqueci-me de comprar o papel higiénico na semana passada, depois não entreguei uma mensagem importante a Byron e, finalmente, esqueci-me de ir buscar o seu fato favorito à lavandaria. E isso não é tudo. Ontem fui às compras e esqueci-me de que vinha o homem que corta a relva. Naturalmente, não conseguiu entrar e perdeu muito tempo à espera para nada. Telefonou mais tarde e foi tão grosseiro que lhe disse para não voltar. Claro, não contei a Byron. Não me atrevi. Não é de estranhar que pense que sou um desastre.

– Tolices! – exclamou Jade. – Não és um desastre. Todos se esquecem de coisas, sobretudo num trabalho novo. O que precisas, tia Ava, é de ter mais fé em ti própria.

Mais fé em si própria? Ava suspirou. Quando tivera fé? Alguma vez olhara para o futuro com segurança e optimismo? Alguma vez não seguira o caminho mais fácil?

Não que pudesse recordar.

Porque seria assim? Fora uma menina bonita, com olhos azuis enormes, caracóis castanhos e bastante inteligente. Aos três anos já sabia ler. As pessoas começaram a comentar que era brilhante. Até aprendera a nadar quase ao mesmo tempo que a andar. Mas agora mal passava um dia sem tropeçar em algo. Quanto a nadar, o seu corpo não via um fato-de-banho há anos.

Não devia ter-se transformado na pessoa tímida, gordinha, insípida e propensa aos acidentes que era actualmente. O que correra mal?

– A razão pela qual pensas que és um desastre – prosseguiu Jade, – é que a minha adorável mãe to dizia várias vezes, tal como a mim. Comigo não obteve o resultado esperado porque me parecia com ela. Mas tu és mais dócil e magoou-te mais do que a mim com os seus comentários. Mas já não está cá, tia. Já não pode magoar-te. Quanto ao pai… ladra muito, mas não morde. Ignora-o. Olha, tenho de procurar um saco de plástico para levar a roupa. Não demorarei.

Jade saiu do quarto e Ava sentiu-se aliviada por ter alguns segundos para ela. Aquela rapariga era um redemoinho. Mas tão inteligente e tão segura de si própria… Ava admirava o modo como sempre soubera cuidar de si própria. Apesar de algumas das suas travessuras de adolescente terem sido terríveis, ela nunca tivera o temperamento para ser tão rebelde.

Suspirou ao pensar nas circunstâncias que a tinham deixado, com sete anos, nas mãos de outras pessoas que não eram os seus pais. O seu pai morrera de cancro quando ela tinha cinco anos e a sua mãe pouco depois, de um ataque de coração, deixando-a a cargo do seu irmão mais velho, Byron, num momento em que a empresa familiar atravessava uma crise económica e ele trabalhava quase vinte e quatro horas por dia. Dois anos depois, casara-se com Irene Campbell.

Dizia-se que Byron queria a união da Jóias Campbell e da Opalas Whitmore, salvando assim a empresa familiar, mas o plano correra mal. Stewart Campbell deixara tudo, incluindo o controlo da empresa, à sua segunda esposa, Adele, que aparentemente detestava Irene e que se apressou a tirá-la de cena, favorecendo os seus próprios filhos, Celeste e Damian.

Por sorte para a fortuna familiar, a empresa dos Whitmore salvara-se antes de Celeste se encarregar da Jóias Campbell e ressuscitar a inimizade. Finalmente, não importara que Irene não contribuísse com nada para o casamento, à excepção da sua doce pessoa.

Ava sorriu ao pensar na descrição de Irene. Só fora doce com Byron e, mesmo então, a palavra não era adequada. Irene amava Byron de maneira obsessiva. Ele era o seu príncipe, o seu Deus, a sua razão para viver. Na sua presença, era totalmente diferente da pessoa que morava em Belleview quando ele não estava. Na sua ausência, dera um novo significado à palavra «azedo».

Sim, Jade tinha razão. A deterioração da sua auto-estima podia ser devido a Irene Campbell. Aquela mulher fora insidiosa com os seus sarcasmos subtis, mas incansáveis. Criticava com um sorriso doce, mas o efeito era o mesmo. Ava acabara por se sentir uma fracassada. Enquanto Jade contra-atacara, ela cedera, procurando alívio na comida e refugiando-se no seu mundo de fantasia. O pior de tudo era que deixara que Irene convencesse Byron de que a sua irmã era uma mulher simples incapaz de atrair os homens, insinuando que qualquer um que mostrasse interesse nela tinha de ser um caçador de fortunas.

A lembrança do que acontecera com James quando ela tinha vinte anos era demasiado dolorosa, talvez porque dessa vez Irene tivera razão. Depois daquele incidente, ela comera mais bolos.

A sua vida ficara reduzida a uma série de dietas inúteis que nunca duravam e bebedeiras. A sua intenção de conseguir um trabalho desaparecera juntamente com o que restava da sua auto-estima. Era muito mais fácil ficar no seu quarto e fingir que algum dia se transformaria numa artista famosa. Byron até transformara o quarto contíguo ao dela num estúdio para que pudesse fingir.

E, embora no seu subconsciente pensasse que tinha um pouco de talento, nunca pintava nada que a satisfizesse. Cada vez que estava prestes a acabar um quadro, algo nele a deixava insatisfeita e acabava por o deixar de lado. Nunca acabara um quadro. Nem uma só vez!

– Já estou aqui – Jade regressou ao quarto e começou a pôr a roupa num enorme saco de plástico. – Tenho de ir. Falarei com o pai amanhã no trabalho sobre essa festa e telefonar-te-ei. Em qualquer caso, deixa a sexta-feira livre. Se não dermos a festa, pelo menos sairemos para jantar.

Ava conduziu Jade até à porta principal, certificando-se de que todas as portas e portões ficavam fechadas depois de ela sair. Ao ver os jardins, recordou que em algum momento teria de fazer algo com eles. Não importava o que Jade dissesse, Ava aceitava que, às vezes, era um verdadeiro desastre. Não devia ter-se esquecido do homem que cortava a relva. A sua memória era atroz!

Por sorte não tivera o mesmo problema com o jardineiro. O senhor Potts trabalhava há anos para eles e tinha a sua própria chave, dado que vivia ao fundo da rua e ia e vinha em horas muito diversas. Se lhe pedisse educadamente, talvez pudesse cortar a relva uma ou duas vezes, mas estava a ficar velho e os jardins eram extensos. Não, não lho pediria. Mas então a quem?

Já procurara no caderno de Melanie, onde ela escrevera os nomes de todos os empregados temporários. Mas não havia nenhum homem que cortasse a relva entre eles.